A historiadora Nilma tem feito o circuito dos festivais de cinema, com seu documentário sobre as irmãs Conceição da Silva, expulsas de casa em Iguaba Grande e que hoje vivem, com medo, em São Pedro da Aldeia.
Uma historiadora, museóloga e pesquisadora de mão cheia, Nilma Accioli é pós graduada em história na UFF (Universidade Federal Fluminense) e bolsista do Fundo Nacional de Apoio à Pesquisa. Mas é como uma diretora sensível, realizadora de um documentário sobre mulheres negras, as irmãs Conceição da Silva, que se tornou conhecida.
“As minhas pesquisas sempre envolveram a escravidão e suas consequências na cultura brasileira. Em 2000 recebi o Prêmio Comdedine (Comissão de Defesa dos Direitos dos Negros), com trabalho sobre João Candido”, conta Nilma. Ex-diretora do Departamento de Cultura de Iguaba Grande, realizou trabalho sobre a cultura dos afrodescendentes da Região dos Lagos que resultou numa exposição na Casa da Cultura, depois ampliada, em 2006, com a inserção de fotos da irmãs Conceição da Silva. Em 2008, a historiadora enviou a história das irmãs para o Projeto Revelando os Brasis, específico para moradores de cidades de até 20 mil habitantes, como era o caso de Iguaba, para que pudessem realizar um filme sobre uma história local. Foi então selecionada e pôde fazer o filme, com cenas gravadas em Iguaba, onde as irmãs Conceição da Silva sempre viveram até serem perseguidas, e outra parte filmada na Cruz, em São Pedro da Aldeia, onde vivem agora.
“O filme tem o depoimento das 6 irmãs: Georgina, Sigislete, Hermanda, Hilda, Maria e Luiza, além do depoimento de Pedrina, sobrinha, e de antigas vizinhas: Edith, Regina e Luiza. A trilha sonora é de Gabriel Moura, Seu Jorge e Jovi Joviniano”, fala Nilma. Com o enigmático título “Ibiri, tua boca fala por nós”, o filme recebeu o Prêmio de Público do Festival de Vídeo Mémoire, Heritages et Formes Esntemporaines, na França, em 2009, e acaba de receber o Prêmio de Melhor Filme, concedido pelo Júri Oficial, no IX Arariboia Cine. Exibido em 22 festivais brasileiros, entre eles o Festival de Gramado e o Festival Internacional de Filmes Etnográficos, foi também apresentado em evento sobre Cultura Negra, no Museu da Aquitania, na França, em diversos países africanos, na Universidade de Laval, no Canadá, num circuito por universidades no México, na Costa Rica e em Nova York, nos Estados Unidos.
Morando atualmente em Búzios, Nilma continua sua pesquisa sobre o Tráfico Ilegal de escravos no Litoral do Norte Fluminense, centrada no libelo “José Gonçalves da Silva à Nação Brasileira”, publicado em 1864 pelo traficante de escravos que controlava o comércio ilegal de africanos no litoral de Cabo Frio. No século 19, José Gonçalves foi acusado de tráfico ilegal, preso e, depois de absolvido, passou 14 anos publicando artigos em jornais reclamando contra a “injustiça sofrida”. Com certeza esta será mais uma pesquisa reveladora da pesquisadora guerreira que Nilma é, marcada pela sensibilidade em relação aos temas sociais, particularmente relativos à tradição negra e afro-brasileira.
Matéria publicada na edição de dezembro de 2010 do jornal O Saquá (edição 128)