Penetrado na churrascaria
A partir de uma falsa informação, Madeleine seguiu na tentativa de flagrar o marido Rodrigues, caminhoneiro supostamente em viagem, e durante dias e noites ela circulou na porta de um motel rampeiro, de frequência duvidosa e de última categoria, fato testemunhado e comentado pela maioria dos moradores da comunidade. Dias depois o marido se envolveu numa discussão, em churrascaria próxima de sua casa, com Jomar, o adversário na briga, conhecido como Fala Fino por ser metido à intelectual refinado, disse que não tinha tempo disponível para trocar palavras com corno estradeiro, marido de piranha xoxoteira e ativista assídua no campo das atividades moteleiras.
Prosseguiu afirmando que Madeleine, além de safada e descabida, é sabidamente plantonista dos portais dos redevus disfarçados em motéis decadentes de beira de estrada, onde aguarda homens para práticas de ritos sexuais impróprios e abomináveis. Que a mulher é uma marafona pervertida (tradução: vagabunda safada), quadrúpede do úbere desidratado (tradução: vaca da maminha seca), cujos esfíncteres flamejantes são dotados de ardor crônico inextinguível (tradução: ninguém consegue apagar o fogo que ela tem no rabo).
Por ser mulher de hábitos noturnos, é degenerada e infiel esposa de marido desqualificado cujo lar é a boléia dos veículos destinados ao transporte de cargas. (tradução: rala mais do que burro de carga, enquanto a esposa encaçapa a maçaneta nas noitadas de piranhagem). Adepta de destilados ardentes se degrada alcoolizada pelos motéis da vizinhança (tradução: safada e manguaceira, vive beba na gandaia).
Desconhecendo a história e as razões do plantão da mulher na porta do motel e de tudo que foi dito só ter entendido que foi chamado de corno, Rodrigues armou uma desavença na churrascaria fazendo voar farofa, carnes e batatas fritas pra tudo quanto foi lado. No auge da porradaria, palmeou um espeto e enchurrascou a bexiga do adversário que, ao ser penetrado e varado de lado a lado, teve um dos rins perfurado e caiu estrebuchando numa poça de molho à campanha. O caminhoneiro se apresentou à polícia e vai responder o processo em liberdade. Jomar foi socorrido e operado. Perdeu o rim esquerdo, um pedaço da bexiga e está com uma sonda urinária pendurada no encolhido.
Espinho na periquita
Muito da safada e assanhada, Rosa, 24 anos, quando viu o carpinteiro fabricante de caixões pelado tomando banho de cavalo nos fundos da oficina foi logo entregando sua virgindade e deflorada numa pilha de cavacos de madeira. No meio da serragem gemeu arreganhada nos cotocos de paus e se perdeu inteira, entregue as sacanagens de Belmiro, sem saber que, para ele, aquela era apenas mais uma das tantas aventuras sexuais a ser acrescentada na sua ficha de putanheiro ambulante e para ser contada aos amigos de cerveja e jogatina.
Para cada uma das suas conquistas criou um apelido. Com a fogosa Rosa foi impiedoso, chamou de “xereca de arame”, detalhando para amigos os pormenores da aventura, afirmando até que saiu da relação todo futucado, espetado e furado de tão grosso que é cada fiapo dos pentelhos duros da virgem possuída. A coisa, afirmou, parece um fogareiro de lenha cercado de arame farpado.
O apelido e a aventura se tornaram públicos e motivo de ofensas e chacotas por parte dos moradores do bairro. Exaurida pela tortura, para se vingar, Rosa, toda langanhosa arrastou Belmiro pra uma nova sessão de furunfa no cavaco. Lambuzou de saliva e lambeu o carpinteiro num banho de gato que começou no dedão do pé e invadiu os buracos das orelhas. Fez cafuné no peito peludo e carinho enrolando os cabelos da bunda empoeirada com pó de serra. Miou gatinha, arranhando os mamilos do macho em êxtase.
Estrunchado de tesão, o acariciado se contorcia, que nem cobra no asfalto quente e quando Belmiro se preparou para romper a cerca de arame farpado, recebeu um banho de álcool e um fósforo aceso. O fogo se propagou na madeira acumulada e o incêndio destruiu a oficina. Torradinho, Belmiro durou uma semana e morreu no hospital assado, desfigurado e bem passado. Ninguém sabe onde Rosa se escondeu, mas continua sendo procurada pela polícia, pelo nome e pelo apelido.
Entupido, porém feliz
Na terça-feira, ao chegar à casa, onde é caseiro, mesmo sentindo um cheiro muito do esquisito, Juvenal, 36 anos, quando viu aquele pedaço de suíno mal passado cravado no espeto da churrasqueira, se atracou na picanha e, com fedor e tudo, comeu também a maionese rançosa, a farofa meio arroxeada e tudo que sobrou do churrasco festivo de sábado. As coxas e sobrecoxas de frango, tostadinhas e catingosas estavam irresistíveis ao paladar, bastando prender a respiração e engolir o petisco. Lá um ou outro pedaço de carne de vaca estava infestado com bichos de mosca varejeira, mas nada que não pudesse limpar com uma escovinha de dentes usada. Os espetinhos de coração de frango, só estavam com cheiro de pomba azeda, problema resolvido com o molho de malagueta mexicana, simplesmente inigualável.
As moelas de galinha, temperadas com alhos da china e vinho branco, exalavam um odor penetrante de chulé de virilha de cangaceiro, situação resolvida quando mergulhadas no vinagre, caldo de limão, cachaça e folhinhas frescas de alfavaca do mato. De manhã comeu parte do cardápio e, como nada sentiu, à noite se empanturrou de novo com as iguarias. Prosseguiu assim nos dois dias seguintes e enquanto duraram as sobras do menu, deixadas pelos convidados do aniversariante. Sem nada acontecer, se sentiu a hiena da reserva florestal de Vilatur; O imbatível devorador de carniças de Ipintagas; O estômago de avestruz de Jacarepiá. Belo e faceiro, após vinte e dois dias sem sentar no vaso sanitário, Juvenal se deu conta de que estava entupido, com as válvulas caganicânicas obstruídas pelas tripas concretadas, sentindo como se uma bola de bilhar lhe tivesse arrolhado a porta natural de saída.
Avolumado e gaseificado, mas ainda sem sentir dor, começou a inchar e uma febre fervente, de vez em quando, parecia lhe cozinhar os miolos. Internado, totalmente consciente e tranquilo, relatou com detalhes a comilança. Sorria ao falar sobre o assunto e afirmou que se ficasse bom e tivesse chance, faria tudo de novo. Com gravíssima e irreversível infecção generalizada, apesar das tentativas dos médicos, morreu no hospital todo trancado, com a ruela bloqueada por intransponível blindagem obstrutiva, mas com sorridente ar de satisfação estampado nas bochechas da cara arroxeada.
Vovó cafetina
Pego em flagrante com a boca na botija, surrupiando as joias da mãe, Dimas, 19 anos, algemado e preso, foi levado para a delegacia, onde ao tomar um vasto e estrondoso esporro, dado por Ribeiro, seu padrasto, retrucou dizendo que ele também não e lá flor que se cheire, porque é um coroa safado, escroto e pedófilo, por ser amante e deflorador de sua irmã, que hoje com vinte, tinha onze anos de idade ao ser estuprada por ele. Na cara e na fuça apontou o dedo e afirmou que o marido da sua mãe é metido a esposo exemplar, sério, correto e cumpridor dos seus deveres perante a lei e a comunidade, mas que, em verdade, é um maconheiro disfarçado, chincheiro, trapaceiro e fungador de cocaína, e que o furto das joias, não só as da mãe, como as da avó e as da tia foram tramadas por ele.
Acusou a mãe de saber, e muito bem, do passado e do presente de Ribeiro, que era garoto de programa e levava os turistas para hotéis na Zona Sul do Rio de Janeiro para roubar o dinheiro e outros pertences dos gringos usando o golpe conhecido como “Boa Noite Cinderela”. Ao falar da irmã, revelou que ela manteve o caso em segredo por ser uma viciada, que sempre teve suas carreiras de pó supridas pelas traficanças do padrasto, que também é receptador de peças de ouro, pedras preciosas, celulares e notebooks roubados. Indignada, a mãe disse que Dimas é cópia fiel do pai, seu falecido marido, que era agiota, cafetão, dono de randevu, macumbeiro e atravessador de peças de carros roubadas, mantidas num ferro-velho escondido no fundo do quintal.
A lixeira familiar e a lavação de roupa suja com acusações mútuas e generalizadas vararam o dia e entrou noite a dentro. Até os nomes de parentes mortos de Ribeiro entraram no angu de baixarias. Afirmaram que a avó, por ter sido uma cafetina rampeira e despudorada, morreu tascada num Beco da Lapa e a mãe, por ser piranha estradeira, foi atropelada transando na pista, onde faleceu esmigalhada, quando um caminhão carregado com galinhas passou disparado com as quatro rodas por cima.
Sacanagem no espumeiro
Como doméstica contratada para todos os serviços, além de faxina, tanque e cozinha, tinha que sabonetar o patrão no chuveiro e na banheira, até o barrigudo sumir gozando no espumeiro. O ritual diário, que consumia litros de xampu enquanto o coroa se regalava no esfregaço, só terminava na última meia hora antes de Celina, a esposa, chegar cansada do trabalho. Desconfiada do rala-bucho no banheiro, a filha de Amerildo emburacou o olho na fechadura e viu a empregada Janice esfregando a bunda e as circunvizinhanças do rabo do pai com uma bucha de cerca, normalmente usada no sítio para lavar cavalo.
O espumeiro era tanto que só se via o vaivém do braço entrando por baixo e saindo ninguém sabe por onde, enquanto o coroa delirando de prazer mandava esfregar com força até o fundo da vala peluda e nas reentrâncias adjacentes, nas dobraduras das gordas virilhas, na assadura avermelhada do rego e na entrada da porta do cofrinho. No auge da excitação, chamou Janice de égua safada e de vaca rampeira. Na sequência, encheu a boca da empregada de beijos e, axaurido, caiu estupefato e arreganhado, sentado no vaso da privada.
Esganecida de furor desvairado, a filha do exaurido empunhando um taco de sinuca invadiu o banheiro e desmoronou o pai e a empregada na porrada. Janice, esgoelada com uma tacada no pescoço e outra no miolo da testa estrebuchou vomitando sangue e se esborrachou inconsciente no chão ensaboado. Amerildo, massacrado com mais de vinte golpes de porrete, por traumatismo craniano com perda de massa encefálica foi internado em irreversível estado de coma. Com prisão preventiva decretada, a filha Ismênia continua foragida da justiça.
Casos publicados na edição de abril de 2011 do jornal O Saquá (edição 132)