Antônio Palocci, o todo-poderoso em dois governos petistas, caiu pela segunda vez após o jornal Folha de São Paulo denunciar que o ministro-chefe da Casa Civil multiplicou seu patrimônio por 20, entre 2007 e 2010, quando exercia o mandato de deputado federal com “trânsito livre” no governo Lula e no PT, facilitando a vida dos clientes de sua empresa de “consultoria”. Pior é que metade dos R$ 20 milhões que embolsou foi faturada no final de 2010, quando já era o virtual superministro de um muito provável (diziam as pesquisas) governo da candidata de Lula de cuja campanha Palocci era o coordenador, tornando nítido o conflito de interesses entre sua atuação política e a influência exercida para oferecer benesses à clientela. E assim, em apenas seis anos, o raio caiu três vezes no mesmo lugar, ferindo gravemente José Dirceu, Erenice Guerra e, agora, Antônio Palocci, todos na secretaria de governo…
Palocci nem acabara de cair e o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, já tombava por denúncias de corrupção e superfaturamento, anunciadas pelo jornal O Globo com manchete de primeira página: “Dilma desmonta esquema de corrupção da época de Lula”. São dois ministros em escândalos em apenas seis meses do governo Dilma. Nunca na história deste país… (você sabe). Pombas!!! Meu espaço aqui está ficando insuficiente diante de tanta corrupção oficial! Há denúncias de que dois anos após ter sido criada com um capital social de R 60 mil, a Forma Construções, uma das empresas do arquiteto Gustavo Morais Pereira, filho do ex-ministro dos Transportes, construiu um patrimônio superior a R$ 50 milhões, com um crescimento de 86.500%. As investigações do Ministério Público Federal podem complicar ainda mais esta situação. Quanto às investigações de obras superfaturadas, que estão sendo realizadas pelo TCU, transparece a idéia de que o Ministério dos Transportes transformou-se em feudo do Partido da República (PR). Há informações de que os principais doadores de campanha do PR, ano passado, receberam do Ministério do Transportes R$ 986,2 milhões e abasteceram os cofres do partido com quase R$ 6 milhões para as eleições de 2010.
Das análises sobre a corrupção no Brasil, as do antropólogo Roberto Da Matta parecem as mais lúcidas e contundentes. Na avaliação de Da Matta, isso ultrapassa a trivial suspeita de enriquecimento indébito, contemplando aspectos típicos do lulopetismo, onde “somo tudo palacianos” ou “paloccianos” (como ensina aquela cartilha do MEC), numa panelinha que cozinha a chamada “ética da condescendência” fruto da nossa cultura patronal-escravocrata, que sempre salva qualquer um do inferno.
Da Matta faz uma oportuna correção, ao ressaltar que, no Brasil, o Estado não é um instrumento da burguesia, como sustentava Marx, mas um veículo de aristocratização e enriquecimento dos detentores do poder, na razão de suas importâncias nas respectivas burocracias. E Da Matta justifica taxativo: “Basta tabular o aumento patrimonial dos seus membros, situando o quanto possuíam e quanto amealharam depois que cumpriram os tremendos sacrifícios do poder para verificar o triunfo da hipocrisia com o povo e pelo povo.” É um Estado cujo governo, amparado por uma independente coalizão, funciona servindo primeiro a si próprio, depois a si mesmo e, em terceiro lugar, aos seus adoradores; jamais à sociedade que o sustenta.
Artigo publicado na edição de julho de 2011 do jornal O Saquá (edição 135)