O primeiro samba registrado na Biblioteca Nacional, o “Pelo Telefone”, do percussionista Donga e do jornalista Mauro de Almeida, o famoso Peru dos Pés Frios, no início do século 20, é um marco na história do samba urbano praticado no Rio de Janeiro. Na chamada Pequena África, área no centro da cidade que ia desde o Largo da Carioca aos pés do Morro de Santo Antônio, passando pela Lapa, Praça Onze até os bairros da Saúde, Gamboa e Santo Cristo, perto do Morro da Conceição e da Praça Mauá, tudo era do povo. Por ali viviam os negros que chegaram da Bahia, advindos da Guerra dos Canudos, no final do século 19, e posteriormente os sobreviventes da Guerra do Paraguai, que subiam os morros nas áreas próximas do quartel general, em frente ao Campo de Santana, em busca de moradias.
Foi na Praça Onze, território ocupado por negros, judeus e prostitutas, que o samba nasceu. Na casa da baiana quituteira Tia Ciata, casada com um médico, havia festas onde se tocava choro e maxixe na sala de visita, samba e jongo no quintal que, quando acabava o samba, virava capoeira e candomblé. Numa roda de samba na casa de Tia Ciata nasceu o “Pelo Telefone”, uma provável composição coletiva que Donga registrou como sendo sua na Biblioteca Nacional, no dia 27 de novembro de 1916, considerado o primeiro samba gravado, que fez um estrondoso sucesso no carnaval de 1917. Mas o samba já existia muito antes desta data, fruto do cruzamento de raízes africanas e brasileiras, na época colonial.
Um pouco da história do samba foi contada pela jornalista Dulce Tupy em palestra ilustrada com músicas, na Casa de Cultura Walmir Ayala, no centro de Saquarema. Para ilustrar a origem do samba, se apresentou o músico Pablo Aruêra e a cantora, atriz e dançarina Glauce Pimenta Rosa, ele fazendo uma abertura com um toque em homenagem a Exu, orixá da comunicação, e ela dançando um toque da Oxum, uma das prováveis origens do samba. Em seguida, os exímios violonistas Célio Silveira e seu filho Wagner Meireles, executaram choros e sambas, demonstrando a evolução do ritmo através de belas composições de Dilermano Reis, João Pernambuco e Pixinguinha.
Iara Vaz, do Bloco Sambaqui de Jaconé, interpretou um samba célebre dos anos 30, de Noel Rosa, com a ajuda luxuosa do pandeiro de seu irmão Sérgio e o violão de Célio. O seresteiro Zezé Conceição interpretou um grande samba-canção e o coral Encanta Saquarema, da Prefeitura Municipal, cantou Ai que saudade da Amélia, de Ataulfo Alves e Mário Lago, além de “Samba do Avião”, do maestro Tom Jobim. Assim, a palestra virou um espetáculo musical vibrante, onde várias faces do samba puderam ser apreciadas pelo público que lotou a sala da Casa da Cultura. Na ocasião, a jornalista Dulce Tupy informou que seu livro “Carnavais de Guerra, o nacionalismo no samba”, lançado em 1985, esgotado há vários anos nas livrarias, agora está disponível na internet, no site da Tupy Comunicações: tupycomunica.com. E pode ser baixado gratuitamente.