Dulce Tupy
A primeira vez que vi Paulinho, como eu costumava chamar Paulo Luiz de Oliveira, foi na minha casa, conduzido pelo poeta Chico Peres, autor do livro “Amor em Poesia”, de 2007, e co-autor, junto com a professora Lina Malheirs Barcellos, do livro “Alberto de Oliveira, o Poeta de Saquarema”, de 2008, ambos editados pela Tupy Comunicações. Ele era tímido, em contraste com o falante Chico, o Dr. Antônio Francisco Alves Peres, então procurador-geral do município de Saquarema. Paulinho vinha com seus originais na mão, uma pesquisa que seria mais tarde o conteúdo do livro “Tamoios, Senhores do Litoral”.
A última vez que vi Paulinho, foi no lançamento do filme “Confederação dos Tamoios: a última batalha”, do cineasta argentino-brasileiro Carlos Pronzato, que estreou na OAB-RJ, em Saquarema, no final de 2019, filme este inspirado em seu livro sobre os Tamoios. O documentarista Carlos Pronzato conheceu o livro do Paulinho também em minha casa, em Barra Nova, onde esteve hospedado, usufruindo da minha biblioteca – tão grande, diversa e tão reservada, à qual poucos amigos têm acesso. Pronzato mergulhou neste universo e devorou o livro que eu tinha recomendado: “Tamoios, Senhores do Litoral”, de Paulo Luiz de Oliveira.
Quando acabou a leitura, Carlos Pronzato quis saber mais sobre os Tamoios, porque ficara impressionado com a revelação no livro de Paulinho de que a grande batalha da Confederação dos Tamoios teria ocorrido em Saquarema. Então, sentamos juntos no computador e fizemos por algumas horas uma pesquisa sobre os Tamoios pela internet, possivelmente por caminhos que também o autor Paulo Luiz Oliveira percorrera na construção de seu livro. Atualmente, tem quase tudo na internet, mas não basta. Falta o click que detona o processo criativo, como o filme que Carlos Pronzato iria realizar tempos depois.
O filme “Confederação dos Tamoios: a última batalha”, do premiado Carlos Pronzato, que acaba de receber mais um prêmio, o Prêmio Direitos Humanos no Jornalismo, promovido pelo Movimento Justiça e Direitos Humanos, no Rio Grande do Sul, co-patrocinado pela OAB-RS e pela Arfoc (Associação dos Repórteres Fotográficos e Cinegrafistas), tinha que ser produzido por alguém que conhecesse o território e amasse tanto o tema como Paulinho, ao escrever o livro. Editado pela minha pequena empresa editorial, a Tupy Comunicações, o livro já era uma paixão, quando comecei a sonhar com o filme do Pronzato.
O LIVRO E O FILME
Com pouca experiência profissional no ramo – sou jornalista e poucas vezes exerci a função de produtora – mas mesmo assim resolvi produzir o filme com os parcos recursos que tínhamos, eu e meu marido, o fotógrafo Edimilson Soares. Assim, com pequenas doações, inclusive de gasolina para os deslocamentos pela Região dos Lagos, fomos compondo as cenas do filme, com o apoio dos amigos. A primeira entrevista – como não poderia deixar de ser – foi com Paulinho, que chegou pontualmente em minha casa, sentou-se na cadeira de balanço, na sala, e começou a falar sobre o livro, não só para nós, mas também para seu neto Juan Pablo, que, curioso, a tudo assistia.
Foram momentos sublimes, de pura contemplação, de minha parte, ao ver a desenvoltura e a maturidade que Paulo Luiz Oliveira alcançara, diante da câmara sensível e sempre atenta de Carlos Pronzato, ávido por captar cada movimento, cada ângulo, cada palavra. Depois, levamos o filme para outros caminhos, como era natural; mas foi assim que tudo começou! Hoje, há poucos dias do falecimento do amigo Paulinho, que se foi tão rápido que não permitiu dizer adeus, fica uma ausência que não cura, um vazio no cenário cultural de Saquarema difícil de preencher.
Paulo Luiz de Oliveira deixou viúva Ana Cristina – uma das irmãs de Chico e do ex-prefeito Antonio Peres – o filho Pablo e o neto Juan Pablo, a filha Natália e a neta, caçulinha, Maria. Paulinho tinha acabado de escrever seu próximo livro, sobre a invasão dos franceses ao Rio de janeiro, no século XVIII, um romance histórico. Vínhamos conversando sobre isso, para certamente uma próxima edição da Tupy Comunicações. Não tivemos tempo de cumprir esse destino, porque talvez não estivesse na hora… Mais um sonho interrompido por essa maldita pandemia! Porém, a imagem de Paulinho permanece em nossas mentes, com seu sorriso bonito e enigmático. Uma imagem que nunca vai se apagar.