Certa vez, o cineasta americano Orson Welles inventou um programa de rádio, informando a população dos Estados Unidos que o Planeta Terra estava sendo invadido por extraterrestres. O rádio acabava de ser inventado, no início do século passado, e era a grande novidade em termos de comunicação de massa. O povo ouvia no rádio as notícias que seriam impressas dia seguinte nos jornais. O rádio era, a novidade, a grande mania, a nova mídia, como hoje é a Internet. Assim, tudo que vinha do rádio era cercado de credibilidade. Falou no rádio, é verdade! Mas nem tudo era verdade…
Assim, o programa do grande homem de mídia que foi Orson Welles, um revolucionário não só do cinema, mas das comunicações em geral, mobilizou a população que acreditou piamente que a Terra estivesse sendo invadida… Milhares de pessoas saíram as ruas, houve engarrafamentos, pessoas passaram mal e foram parar nos hospitais, moradores invadiram supermercados em busca de alimentos,
houve um corre corre, enfim, foi uma confusão geral! A voz que saía do rádio foi capaz de mudar a vida de milhares de cidadãos e cidadãs americanos, crianças, jovens, adultos e idosos, que sofreram o impacto de uma notícia falsa. Orson Welles depois se desculpou publicamente, mas a partir daí levantou-se toda uma polêmica em torno da ética da profissão de radialistas, comunicadores, ou simplesmente jornalistas.
A verdade é que a profissão de jornalista, assim como a profissão de advogado, engenheiro, médico e tantas outras obedecem a uma ética profissional que é uma disciplina que se aprende nas faculdades ou pelo menos nos cursos técnicos de jornalismo, em todo mundo. Este caso do programa de rádio inventado por Orson Welles, tornou-se um caso exemplar, um paradigma na história das comunicações. Assim também, uma notícia mentirosa, pode mudar o rumo da história, ou uma simples fotografia, como foi o caso de uma foto-montagem estampada na capa do jornal O Globo, às vésperas de uma eleição ao governo do estado, com o então governador Leonel Brizola supostamente abraçado com um
traficante-bandido, numa montagem grosseira que impediu que o genial antropólogo Darcy Ribeiro, então vice de Brizola, fosse eleito pelo povo!
Sem a Lei de Imprensa ficou
um vazio a ser preenchido
Em 2009, caiu a Lei de Imprensa – promulgada durante a ditadura militar, em 1967 – e pode-se dizer que se jogou a criança fora junto com a água da bacia. Isto quer dizer que tirou-se o entulho autoritário da lei, mas também extinguiu-se a obrigatoriedade do diploma dos jornalistas para o exercício da profissão. Nas grandes redações de revistas e jornais por onde passei, dizia-se a boca pequena que este sempre foi um dos objetivos dos patrões que estavam interessados na extinção da obrigatoriedade do diploma de jornalismo só para dar emprego a seus filhos, impedidos de atuar na profissão sem passar pelos bancos das faculdades. E foi o que se viu. Os filhinhos de papais jornalistas tiveram que estudar para ter acesso à profissão, com exceções, é claro, porque tem sempre os mais espertinhos, os oportunistas, cujos pais chegam a “comprar” diplomas para seus filhinhos…
Esses “mauricinhos” dos jornais são conhecidos a olhos vistos. Geralmente não sabem escrever, têm uma péssima postura com os colegas e simplesmente desconhecem as regras básicas da ética jornalística. Agora, eles estão batendo palmas para o fim da obrigatoriedade do diploma para o exercício da profissão de jornalistas que, como a de advogados, médicos e engenheiros, necessita de uma qualificação profissional, de preferência feita em faculdades. Dizer que agora todo mundo pode ser jornalista não é verdade, como apregoam os “mauricinhos” das redações, além dos oportunistas de plantão, gente que vem de outras profissões invadir o mercado. Portanto, o Dia da Imprensa, não foi comemorado por nós, jornalistas. Continuamos aguardando um amplo debate sobre o assunto e uma nova lei para preencher o vazio que ficou com a extinção da Lei de Imprensa.