Um negro chamado Ganga Zumba foi o primeiro rei do Quilombo dos Palmares, fundado em 1597, em Alagoas. Abrigo de negros escravos fugitivos e também de brancos e índios, o Quilombo dos Palmares foi considerado o maior e mais organizado no país e sofria ataques periódicos de tropas enviadas pelo governo ou financiadas por fazendeiros. Em um desses ataques, onde muitos quilombolas foram degolados, incluindo crianças, um negrinho recém-nascido foi levado pelos invasores como presente para o padre Antônio Mello, pároco da Vila do Recife. Ali ele foi criado e educado pelo religioso, que o batizou com o nome de Francisco e o ensinou a ler e escrever, além de lhe dar noções de latim e iniciá-lo no estudo da Bíblia. Aos 12 anos, o menino já era coroinha, mas a população local não aprovava a atitude civilizada e cristã do pároco, que criava o negrinho como filho e não como servo.
Apesar do carinho que sentia pelo pai adotivo, Francisco não se conformava em ser tratado de maneira diferente por causa da sua cor. Sofria quando via seus irmãos de raça sendo humilhados e mortos nos engenhos e nas praças públicas. Um dia resolveu fugir para o distante quilombo de sua origem, no Morro da Barriga. Lá, depois de viajar mais de 130 quilômetros a pé, foi adotado por uma nova família e recebeu o nome de Zumbi. Graças aos conhecimentos recebidos do padre Antônio Mello, Zumbi logo superou seus irmãos em inteligência e coragem. Aos dezessete anos tornou-se “general das armas”, ou seja, ministro da defesa de Palmares e transformou o quilombo em verdadeira fortaleza. Após a morte de Ganga Zumba, que acreditou num acordo de paz com os senhores de engenho, Zumbi foi elevado à alta dignidade de rei e continuou liderando a luta pela liberdade dos escravos, servindo de estímulo à rebelião e à criação de mais quilombos em todo o Brasil.
Depois de sucessivas batalhas, veio a destruição do Quilombo dos Palmares, em 1694, comandada pelo bandeirante Domingos Jorge Velho. Após longo sítio e cruento combate, Zumbi fugiu com outros sobreviventes para a Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, onde pretendia fundar outro quilombo. Porém, em 20 de novembro de 1695, foi traído por um dos seus principais comandantes; foi capturado e torturado. Jorge Velho decapitou o valoroso guerreiro e levou a cabeça para a cidade de Recife, onde ficou exposta por vários anos na Praça do Carmo, até sua completa decomposição. “Morto Vivo” ou “Fantasma Imortal”, traduções um tanto místicas do nome africano “Zumbi”, têm significado especial para a História do Brasil, como referência ao principal líder guerreiro na luta travada contra a escravidão em nosso país.
Artigo publicado na edição de dezembro
de 2009 do jornal O Saquá (edição 115)