O leopardo Zakumi, mascote da Copa de 2010, representa o povo, a geografia e o espírito sulafricano. A bola oficial da Copa, que recebeu o nome de Jabulani, tem 11 cores representando o número de jogadores de um time de futebol, de tribos sulafricanas e de idiomas oficiais do país.
As bolinhas balizaram a primeira
trilha do Brasil na África do Sul
Por: Marcelo Vignoli
Não foi no tapete verde de um gramado, mas no tapete ver melho do Centro Internacional de Convenções da Cidade do Cabo, na África do Sul, que rolaram as bolinhas do sorteio da FIFA, indicando os jogos da primeira fase da Copa do Mundo, que começa no dia 11 de junho, com o jogo entre as seleções da África do Sul, país sede da competição, e México, em Johannesburgo. O sorteio obedeceu ao critério dirigido, pelo qual o Brasil, por exemplo, não poderia enfrentar, nesta primeira fase, um adversário sul-americano, o mesmo acontecendo em relação às seleções do continente africano. Quanto ao continente europeu, devido à maior quantidade de competidores, até dois países poderiam ficar num mesmo grupo. Em 8 grupos, cada um formado por 4 seleções, reunindo o futebol de 32 países, só as 2 seleções colocadas em primeiro e segundo lugares, em cada grupo, classificam-se para a fase seguinte, as oitavas-de-final, também conhecida por mata-mata, pois o time que perder é eliminado.
Poucas horas antes do sorteio, integrantes da Comissão Técnica da CBF entrelaçavam os dedos para que não fossem sorteados no grupo de quatro seleções, onde o Brasil era cabeça de chave, França, Dinamarca, México, Portugal e Costa do Marfim. Apesar da torcida, acabaram sendo sorteados, para o grupo do Brasil, Portugal e Costa do Marfim. Após o sorteio, as bolinhas desenharam uma Copa sem aquele famoso “grupo da morte”, de copas anteriores, equilibrando as dificuldades entre os grupos. Tanto que o Brasil, que ficou no Grupo G, disputará uma chave nada fácil. Estreará contra a fraca seleção da Coreia do Norte, no dia 15 de junho, mas, em seguida, enfrentará a Costa do Marfim, no dia 20, e Portugal no dia 25. Os dois primeiros jogos em Johannesburgo começarão às 15h 30 min, e o último, em Durban, às 11 horas, pelo horário de Brasília.
Uma novidade na Copa de 2010 será a bola oficial, que recebeu o nome de Jabulani, significando “celebração” no idioma zulu. Além das 11 cores, representando o número de jogadores de cada time de futebol, o de tribos que formam a população do país e o de idiomas oficiais da África do Sul, a nova bola terá velocidade que pode variar em até 5%, dependendo da altitude dos estádios. Assim, o goleiro brasileiro Júlio César tem motivo para se preocupar. Um estudo realizado pela Adidas mostrou que a bola da Copa chutada da mesma distância e com a mesma força no Ellis Park (estádio da estréia do Brasil contra a Coreia do Norte) ou no Soccer City (estádio da partida contra a Costa do Marfim), ambos em Johannesburgo, a 1.694 m de altitude, chega ao gol 5% mais rápida do que no Moses Mabbida, em Dur-ban, ao nível do mar, onde o Brasil enfrentará Portugal no terceiro jogo pelo Grupo G. Portanto, num chute de 120 km/h em Durban a bola viaja numa velocidade de 126 km/h em Johannesburgo. Outros 4 estádios da primeira copa a ser realizada no continente africano estão acima dos 1.000 m de altitude: Bloemfontein (1.351 m), Pretoria (1.330 m), Polokwane (1.230 m) e Rustenburg (1.153 m).
O futebol contra a segregação racial
A dura rotina dos presos políticos na África do Sul durante o apartheid, rigoroso regime de segregação racial até 1990, que separava brancos e negros praticamente em tudo, começou a se transformar em 1965, quando o futebol passou a ser permitido aos sábados na prisão de Robben Island, perto da Cidade do Cabo, onde o líder negro Nelson Mandela ficou preso por mais de 18 anos.
Na prisão, o futebol surgiu como uma esperança de dias melhores e uma oportunidade para o exercício da democracia entre aqueles que ajudariam, anos depois, a formar a África do Sul sem o apartheid. As partidas de futebol em Robben Island são consideradas por historiadores como importante arma na luta contra o regime racista do apartheid, principalmente porque mantinha os presos organizados.
Na encomenda de livros por parte dos presos, O Capital, de Karl Marx, era o mais pedido. O segundo era um manual da FIFA com as regras básicas sobre o funcionamento de entidades organizadoras de campeonatos de futebol. Em 1994, os colegas de cela de Mandela formaram a Associação de Futebol Makana (nome de um guerreiro sul-africano do século XIX) reconhecida pela FIFA, em 2007. Num gesto simbólico, em homenagem às mudanças benéficas que o futebol trouxe ao país, a FIFA realizou em Robben Island a reunião preparatória, na véspera do sorteio dos grupos para a primeira fase da Copa do Mundo que será disputada, este ano, na África do Sul.
De acordo com levantamento do governo sul-africano, a Copa do Mundo vai custar US$ 55 bilhões ou 400 bilhões de rands, a moeda do país. Deste total, cerca de US$ 4 bilhões serão gastos até o fim da Copa para sediar o evento. Os outros custos referem-se às melhorias gerais em infra-estrutura que vão ficar como legado para o país, tais como aeroportos, estradas, estádios esportivos e a construção de um trem rápido. A primeira Copa do Mundo no continente africano deve injetar cerca de US$ 7,6 bilhões na economia da África do Sul, criando 415.400 postos de trabalho e contribuindo com a geração de US$ 2,6 bilhões em impostos para o governo sul-africano. A FIFA fixou em US$ 420 milhões o total da premiação em dinheiro para a Copa do Mundo, sendo US$ 30 milhões para a seleção do país campeão e US$ 24 milhões para o vice.
Matéria publicada na edição de janeiro de 2010
do jornal O Saquá (edição 116)