As mudanças climáticas já são sentidas em toda a Região dos Lagos, inclusive Saquarema, onde a Praia de Itaúna sofreu forte ressaca em 2007 (foto acima) e bairros inteiros, como Barra Nova, foram destruídos por um ciclone extratropical em 2005. Foto (Arquivo 2007): Paulo Lulo.
Enquanto líderes mundiais se reuniam em Copenhague, na Dinamarca, ambientalistas da Região dos Lagos participaram de uma Oficina sobre Mudanças Climáticas, em Araruama
Governantes e líderes do mundo inteiro se reuniram na Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, a COP 15, na Europa, para buscar uma solução para as transformações do clima que vêm ocorrendo em todo o planeta. Em duas semanas de debates, não chegaram a nenhuma conclusão e nem assinaram um acordo para definição de metas de redução da emissão de carbono, um dos principais fatores que provocam o aquecimento global.
No mesmo momento em que a COP 15 se realizava no Hemisfério Norte, aqui no sul, em Araruama, representantes dos governos municipais, do empresariado local e de organizações não governamentais da Região dos Lagos participaram de uma Oficina sobre Mudanças Climáticas promovido pelo Consórcio Intermunicipal Lagos São João (CILSJ) e pela organização ambientalista WWF Brasil. Durante 2 dias, foram debatidas questões como a elevação do nível do mar, ecossistemas costeiros, brejos e lagoas da região, proteção das nascentes, saneamento básico, destinação do lixo e ocupação desordenada do solo, entre outros problemas urbanos e rurais.
Segundo o metereologista do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, Marcos Sanches, hoje já estamos 1,8 graus Celsius mais quentes do que no início do século 20 e o nível do mar está se elevando a uma taxa de aproximadamente 3 mm por ano. Numa região em que há municípios que estão abaixo da linha do mar, como é o caso de Rio das Ostras, a situação é grave. As mudanças climáticas têm agravado fenômenos como os ciclones extratropicais, idênticos ao que atingiu Saquarema anos atrás e projetou um barco no alto de um poste na praia, destruiu casas e telhados ao longo da orla marítima.
Cerca de 80% do aquecimento global é devido à emissão do dióxido de carbono, o CO2, lançado na atmosfera. Daí a importância da COP 15 realizada em Copenhague e todos os esforços para reduzir a emissão de carbono, para que a temperatura da terra não ultrapasse o limite de 2 graus centígrados, sob o risco de vivermos uma tragédia em escala mundial. É preciso parar de emitir CO2 tanto quanto os países desenvolvidos e buscar o equilíbrio possível.
Nesse sentido, técnicos do Ministério do Meio Ambiente, como o biólogo Leandro Valentim e a analista ambiental Adriana Lustosa, destacaram a importância do Plano Nacional de Mudanças Climáticas e do Plano Nacional de Recursos Hídricos para o Brasil. Já o biólogo Fernando Frichmann, da Secretaria Estadual do Ambiente do Rio de Janeiro, ressaltou a necessidade de recuperação da Mata Atlântica e a restauração das Zonas Costeiras. Para a diretora de Gestão das Águas e Territórios, do Instituto Estadual do Ambiente (Inea), Rosa Formiga, é preciso relacionar os problemas ambientais e sociais.
“No Rio de Janeiro ainda temos 49 vazadouros (lixões), sendo que 26 com a presença de catadores de lixo; 60% do esgoto coletado, mas só 35% são tratados; e ainda temos a ocupação desordenada do solo, provocando a degradação de rios e lagoas”, sintetizou Rosa.
O economista Rafael Vieira, acompanhado do geógrafo Corbininho Silva, do Instituto Virtual de Mudanças Globais, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) falou sobre a necessidade de se fazer o ma-peamento do acesso à água, ao saneamento e à coleta de lixo, na região hidrográfica. Representante da WWF Brasil, o ecólogo Glauco Kimura falou do conceito de “adaptação” às mudanças climáticas. No fechamento da Oficina, o biólogo Mário Flávio Moreira, secretário do Comitê de Bacia Lagos São João destacou o pioneirismo desta iniciativa regional, no momento em que o mundo se volta para as mudanças climáticas. “Somos o primeiro Comitê de Bacia no Brasil a promover esta Oficina”.
Matéria publicada na edição de janeiro de 2010
do jornal O Saquá (edição 116)