Certamente, o leitor espera ver agora outro relato com resgates espetaculosos de feridos e mortos, crianças soterradas e tudo o que os órgãos noticiosos – chamados “formadores de opinião” – costumam enfocar, dessa vez com cuidadosa prioridade, o que se passa no Haiti. O Haiti é um país que nasceu de uma rebelião de escravos negros trazidos pelos franceses. Inspirado pelos ideais que motivaram a Revolução Francesa, em 1789, tornou-se república em 1844, separando-se do país vizinho, São Domingos. O país sobreviveu em meio a guerras civis e rebeliões até 1915, quando firmou acordo com os Estados Unidos, em tentativa para moralizar a administração haitiana e manter a ordem pública e política pelo período de 10 anos. Esse ”auxílio” norte-americano não impediu que o Haiti se transformasse em uma das nações mais pobres e desorganizadas do planeta, apesar de possuir riquezas naturais importantes, indústrias de café, cana de açúcar, cacau, fumo e algodão. Existem lá, também, minerais comerciáveis, mas a extração está paralisada há anos e as minas permanecem abandonadas.
Segundo opinião de observadores internacionais, existe uma política de esvaziamento da autoridade nativa, ali, e manutenção proposital da pobreza popular. Oferecemos ao leitor interessado dois depoimentos abalizados que retratam a triste realidade vigente no infeliz Haiti:
“Recebo muita pressão para usar violência, para ser mais robusto na utilização da força, principalmente dos países mais interessados na área e cuja atuação de força de paz difere da nossa”, disse o general Augusto Heleno Ribeiro, primeiro comandante da ONU no Haiti, apontando como autores dessa pressão os Estados Unidos, o Canadá e a França, em audiência na Câmara Federal, no dia 2 de dezembro de 2004.
“Não tem lógica que as tropas americanas estejam pousando no Haiti, se o Haiti está pedindo ajuda humanitária e não tropas. Seria uma loucura para todos começar a enviar tropas para o Haiti”, disse Daniel Ortega, presidente da Nicarágua, em 15 de janeiro de 2010.
Resta a nós, brasileiros, congratularmo-nos pela política de paz praticada por nossos dirigentes e exercida com dignidade pelas nossas Forças Armadas, não só no exterior, pois sabemos que permanecem limpos também aqui, não obstante as articulações dos sanguessugas e dos já conhecidos “formadores de opinião” tupiniquins.
Artigo publicado na edição de fevereiro de 2010
do jornal O Saquá (edição 117)