Muitas reuniões e cochichos ao pé do ouvido estão agitando o empobrecido cenário político do Estado do Rio, visando as eleições em 3 de outubro no que se refere aos cargos majoritários de governador, senador e presidente da República. Por ser o 3º maior colégio eleitoral do país, o Rio cria uma rigorosa vincu-lação entre as candidaturas a governador e a presidente da República, principalmente em relação à presidenciável Dilma Rousseff, cuja estratégia é buscar uma votação expressiva em território fluminense para compensar, pelo menos em parte, São Paulo e Minas Gerais, que devem marchar com o candidato José Serra.
As articulações giram em torno de palanques, tempo de propaganda gratuita no rádio e na TV e o potencial do candidato. Levando em consideração o frisson que um deputado federal do PV provocou nas últimas eleições para prefeito do Rio, quando obteve mais de um milhão e meio de votos, perdendo para Eduardo Paes por apenas 1,66% dos votos válidos, a oposição descobriu o Ponto G na sucessão estadual: convencer Gabeira a ser o candidato a governador, numa coligação reunindo PSDB, PV, PPS e DEM, garantindo um tempo no rádio e na TV semelhante ao do governador Sérgio Cabral com Dilma Rousseff. O problema do palanque duplo parece definido. No primeiro turno, Gabeira subirá só no de Marina Silva, candidata a presidente pelo PV.
Neste contexto de vinculação entre as candidaturas a governador e a presidente da República não se pode descon-siderar a possível oscilação de estratégia do pré-candidato ao governo do Estado Anthony Garotinho. Filiado ao PR, partido da base do governo Lula, mas declara-damente adversário de Sérgio Cabral, Garotinho já externou seu descontentamento com o explícito apoio de Lula a Cabral. O presidente já disse em discurso que “o governador Sérgio Cabral terá mais 4 anos de mandato”. A reivindicação de Garotinho é que Lula e Dilma mantenham-se neutros na disputa pelo governo do Estado. Acontece que Dilma e Cabral fazem parte do rol dos chamados “candidatos-mochila”, pois vivem nas costas de Lula, certamente um fator de risco para a recente crise hipertensiva do presidente. Famoso por suas asas de águia, Garotinho pode decolar do barco de Dilma e pousar no ninho tucano de José Serra.
Também não se pode descartar a densidade eleitoral do deputado Wagner Montes (PDT), apresentador de programa na TV com altos índices de audiência. Montes tem aparecido nessas primeiras pesquisas para governador em 2º lugar, com percentual de intenções de votos variando entre 24% e 27%. Deve ser por isso que o governador Cabral destacou emissários para uma conversa com o ministro pedetista do Trabalho Carlos Lupi. Cabral não quer Wagner Montes como candidato a governador, pois complicaria ainda mais o seu caminho. Cabral já contabiliza o apoio do pedetista Jorge Roberto Silveira, prefeito de Niterói. Até o ex-pedetista Garotinho tem flertado com seus antigos correligionários do PDT, inclusive o ministro Lupi, para transparecer seu interesse sobre um possível apoio a sua candidatura, com a “desistência” de Wagner Montes.
Se apenas com as candidaturas de Gabeira e Garotinho o cenário se complica, a ponto de ameaçar seriamente a reeleição de Cabral no 1º turno, com Wagner Montes na disputa um 2º turno é quase inevitável e nada fácil para o governador, que tem liderado as prematuras pesquisas com índices entre 34% e 37%. Avaliações iniciais preveem que Cabral perderá votos para Gabeira entre os eleitores de maior escolaridade, principalmente no Grande Rio, e então precisará, dentro da mochila do Lula, disputar com Garotinho e Wagner Montes a preferência dos eleitores mais pobres e menos escolarizados. Essas mesmas avaliações indicam também que a votação do interior do Estado será rachada entre Cabral e Garotinho, que está recebendo o apoio dos ex-prefeitos que agora estão na oposição. O 2º turno é muito provável. Resta saber se Cabral disputará com Garotinho ou Gabeira.
Artigo publicado na edição de fevereiro de 2010
do jornal O Saquá (edição 117)