Por: Silênio Vignoli
Samba, marchinha, frevo, funk e hip-hop fizeram parte da mistura que serviu de trilha sonora para os “mijões” que comandaram a folia obscena na cidade, urinando livremente em público, em qualquer lugar, à luz do dia, sequer respeitando a presença de crianças, por acharem que brincar o carnaval é impregnar a cidade de mau cheiro. Em que pese praticamente a inexistência de banheiros públicos, bem como de sanitários químicos, instaláveis em ocasiões de grandes concentrações populares, isso não é desculpa para que, tanto homens como mulheres, para atender suas necessidades fisiológicas, saiam por aí urinando em postes, árvores, monumentos, bancas de jornal, automóveis e até na lagoa, é claro, ou melhor, é escuro.
Essa conduta, além de ser incompatível com a de pessoas ditas “civilizadas”, é um flagrante desrespeito aos bons costumes e, pior, um crime de atentado ao pudor, cuja punição varia de 6 meses a 2 anos. No Rio, apesar do grande número de sanitários químicos e da repressão com o choque de ordem desencadeado pela Prefeitura no Carnaval, foram presos 317 mijões, incluindo mulheres…
Ao defrontar-se com um desses mijões, no Centro de Saquarema, um idoso civilizado ficou irritado e desabafou: “Os mijões flagarados fazendo isso, deveriam ser conduzidos à delegacia onde ficariam presos por um bom tempo, sem poder urinar, a não ser nas próprias calças”… E ouviu, do mijão bêbado, o deboche: “Quando a bexiga está estourando de tanta cerveja, a boa é mijar em qualquer lugar porque só assim o xixi desce redondo”. Aí chegou a fiscalização e o mijão ficou sabendo que fazer xixi na rua é a única infração que não poder ser aliviada molhando a mão do guarda.
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Matéria publicada na edição de março
de 2010 do jornal O Saquá (edição 118)