“A palavra é de prata e o silêncio de ouro”, afirma a sabedoria popular. Pela palavra distinguimo-nos dos outros animais e expressamos nossos pensamentos, sentimentos, ideias. Pela palavra aproximamo-nos ou afastamo-nos do nosso semelhante. Através dela estabelecemos intercâmbio, declaramos amor, seduzimos e sensibilizamos nosso próximo. Mas também podemos magoá-lo ou feri-lo, ainda que involuntariamente: são as “pedradas na alma”, a que tantas vezes ouvi mestre Claudionor Cruz a elas se referir. (A benção, meu Mestre, pelo seu Centenário de Nascimento!)
Já a ausência da palavra, o silêncio, é de ouro. Pelo silêncio encontramo-nos conosco, sintonizamo-nos: corpo e alma, sonhos e necessidades. E avaliamos nossa trajetória – o que parece indispensável para a evolução individual – e que só pode ser feito em silêncio e solidão. E aqui lembro o que escreveu Erico Verissimo: “só foge da solidão quem tem medo dos próprios pensamentos, das próprias lembranças.”
Mas no mundo moderno, onde encontrar o silêncio? Por incrível que pareça, já há até quem se disponha a gravar o silêncio absoluto, sem qualquer tipo de poluição sonora. É o caso de Gordon Hempton. Suas gravações já foram usadas em anúncios, filmes, museus e até em videogames. Segundo ele, “o silêncio está rapidamente desaparecendo e existem poucos lugares nos EUA onde ele possa ser encontrado de forma absoluta”, garante.
Seguramente, ele não conhece a magia de Saquarema, onde, ao cair da noite, o mar é muitas vezes sussurros sob a doce cintilação das estrelas.
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Artigo publicado na edição de abril
de 2010 do jornal O Saquá (edição 119)