Beatriz Dutra: Cultura é Notícia

Ave, Claudionor Cruz!

Cultura é Notícia - Beatriz Dutra

Um anjo morou e viveu 85 anos na Terra. Era um anjo mineiro vindo pro Rio de Janeiro ainda menino, pois apaixonado por música e pelo seu cavaquinho, não podia se submeter à determinação paternal de que música só devia ser tocada na Igreja. Desde cedo, inteligente e sagaz, o menino Claudionor contra-argumentava que se música é dom divino e Deus está em tudo, ela não devia ser tocada apenas nas igrejas, mas em todos os lugares.

Como o que pensava contrariava seu pai, não teve alternativa senão fugir de casa, não sem antes receber a bênção e se despedir de sua mãe, jurando-lhe que nunca beberia, jogaria ou roubaria na vida. E seria um homem de bem.

Palavra empenhada, com boa índole e valores religiosos recebidos sobretudo de sua mãe, Claudionor foi encontrando seu caminho, acabando por ser tornar notável instrumentista e compositor com sucessos eternos, como: “Caprichos do destino”, “Eu brinco”, “Duas vidas”, “Falta-me alguém”, “Nova ilusão”, e tantos outros, gravados por Orlando Silva, Silvio Caldas, Dircinha Batista, Beth Carvalho, Elis Regina, Paulinho da Viola, Zélia Duncan e outros.

Por mais de 25 anos tive o privilégio de frequentar sua casa, conhecê-lo melhor e admirá-lo mais ainda. Generoso, ensinava  música de graça a quem quisesse aprender. Vi muitas vezes Claudionor emprestar seus instrumentos e ainda pagar a passagem dos que não podiam fazê-lo. Fomos amigos e parceiros, e era considerada sua filha espiritual. No dia 15/06/95, o anjo Claudionor voltou pro Céu e neste ano comemoramos o seu Centenário de Nascimento (1°/04). Ave, Claudionor, pra sempre em nossos corações pela eterna beleza de sua arte musical. CLAUDIONOR CRUZ autor do Hino e Patrono da Cadeira n° 14 da Academia de Letras Rio – Cidade Maravilhosa! Ave, Mestre!

Ps. Claudionor esteve em minha casa, aqui em Saquarema. E como tantos, encantou-se pela beleza e simplicidade desta cidade-poema.

Capa O Saquá 120

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Artigo publicado na edição de maio
de 2010 do jornal O Saquá (edição 120)

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