Por: Silênio Vignoli
Uma inesperada aliança, ou melhor, imprevisível, entre os líderes dos 2 principais grupamentos políticos que dividem Saquarema, o deputado Paulo Melo e o ex-prefeito Dalton Borges, sacudiu o município que acabava de comemorar o seu 169º aniversário. Um impacto imensurável, pois quanto mais robusta é uma inverdade repetida mais verossimilhança aparenta sua imagem. O gigantismo desse impacto teve muito a ver com o antecedente litigioso entre esses dois líderes. Por esta circunstância, a concretização da aliança teve que ser anunciada oficialmente com a velocidade que sua dimensão exigia. Ainda assim, as pessoas continuam a interpelar: Paulo Melo e Dalton juntos, é verdade? Sim, é verdade. Mas não somente uma verdade e ponto final. Ao contrário, é um ponto inicial. Ponto inicial de um novo estágio político e, como tal, volúvel e dinâmico porque atrelado aos sinuosos contornos do processo histórico que é quem baliza o percurso político nos diversos compartimentos da chamada “sociedade organizada”. A política, ao mesmo tempo em que respalda as alianças, conspira contra as uniões estáveis, exigindo muita argúcia de seus protagonistas.
A aliança entre Paulo Melo e Dalton, é um novo estágio político e submete não só essas 2 lideranças, mas também a sociedade saquaremense, a um saudável processo de reflexão sobre as possíveis consequências benéficas decorrentes deste somatório de lideranças.
A imediata reflexão que aflora é se esta aliança aponta para uma democratização do poder num município politicamente rachado ao meio. Os protagonistas deste significativo evento reúnem representatividade suficiente para a gradativa democratização do poder municipal, tão necessária para neutralizar o pernicioso clima de revanchismo e excludência reinante após o resultado de cada eleição.
Se analisarmos o potencial dos protagonistas desta aliança podemos descortinar um cenário de promissora expectativa. Afinal de contas, de um lado está o deputado Paulo Melo, cuja vocação para o desafio de bem conviver com o poder é incontestável. Assim demonstrou perante 4 governos estaduais sucessivos: os de Marcello Alencar, Garotinho, Rosinha e, agora, Sérgio Cabral. É polêmico?
Sim, mas até isto é considerado pela Ciência Política como característica inerente ao perfil de quem possui talento para o exercício da liderança, seja qual for o ramo de atividade. Com reeleição garantida, o deputado Paulo Melo cultiva uma expressiva votação, no dia 5 de outubro, para coroar sua trajetória parlamentar no topo do poder legislativo estadual como presidente da ALERJ. Do outro lado está o ex-prefeito Dalton Borges que, mesmo quando fora do poder, desfruta de uma popularidade indiscutível, repetidas vezes expressa numericamente nas urnas, por obra e graça de um carisma que sucede a dos ex-prefeitos Carlos Campos e Jurandir Melo. Mesmo sem poder, Dalton é um páreo duro nas eleições municipais. Nas 3 últimas eleições perdeu as 2 primeiras por pequena margem de votos e venceu em 2008, quando ganhou, mas não tomou posse por decisão do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Essa judicialização no último pleito municipal deixou sequelas no eleitorado saquaremense que poderão ser amenizadas pela aliança que acabou de ser sacramentada.
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Matéria publicada na edição de junho
de 2010 do jornal O Saquá (edição 121)