O ex-prefeito Antonio Peres Alves, no escritório de sua casa, na Praia de Itaúna, onde recebeu os jornalistas do jornal O Saquá. Edimilson Soares.
Entrevista exclusiva com o ex-prefeito Antonio Peres Alves
Há cerca de três meses os eleitores da cidade vêm assistindo o racha que ocorreu no grupo político que governou a cidade de 2001 a 2008, encabeçado pelo ex-prefeito Antonio Peres, no município, e pelo deputado Paulo Melo, na ALERJ (Assembléia Legislativa), como líder do Governo do Estado. Aparentemente, tudo começou com uma visita que o ex-prefeito Peres fez a seu amigo Zequinha Martins, ex-candidato a vice nas últimas eleições, na chapa do ex-prefeito Dalton Borges. Acusado de estar tramando um complô contra a reeleição, em 2012, da atual prefeita, Franciane Motta, esposa de Paulo Melo, Peres foi isolado pelo deputado que declarou publicamente seu rompimento com o ex-prefeito e sua aliança com Dalton. Detentor do maior número de votos em eleições municipais, Peres conta com o apoio do deputado federal Alexandre Santos, seu padrinho de casamento. Para ouvir o outro lado da história, o jornal O Saquá – que noticiou em primeira mão a união de Paulo Melo e Dalton Borges – fez uma entrevista exclusiva com Peres, dentro do espírito democrático e da boa prática jornalística de ouvir os dois lados, no caso de opiniões divergentes. Eis a entrevista do ex-prefeito Antonio Peres, à jornalista Dulce Tupy.
O Saquá – Você e o deputado Paulo Melo caminharam juntos durante 20 anos. Por que houve este rompimento?
Peres – Já há algum tempo eu vinha sentindo o afastamento do deputado. Na eleição de Franciane, ele mandou o coordenador da propaganda, José Lúcio, me avisar que eu deveria ficar afastado da campanha, me impedindo, inclusive, de subir nos palanques. Quando algumas vezes eu fui aos comícios e subi no palanque ele ficava contrariado, não permitia que eu fizesse discurso e me colocava no fundo do palco; isso tudo foi muito constrangedor para mim. Já nessa época ele dizia para todo mundo que o seu compromisso político comigo terminaria no dia 3l de dezembro de 2008, no final de meu governo. Quando eles assumiram o governo, em 2009, não me deram nenhum espaço, ao contrário das 12 secretarias que o deputado indicou no meu governo. O primeiro ato deles foi afastar minha irmã Ana Amélia, que trabalhou incessantemente para a sua eleição. Isso me deixou muito magoado.
O Saquá – Se tudo isso ocorreu, então por que o deputado Paulo Melo o considera um traidor?
Peres – Fui parceiro político do Deputado por mais de 20 anos e nunca lhe dei motivos para desconfiar da minha fidelidade política. Na sua primeira eleição de deputado, quando ainda era um ilustre desconhecido, fui de casa em casa pedir votos para ele. Ele alega agora que eu o traí porque conversei com o Zequinha que foi vice de Dalton. Só que a conversa que tivemos não tinha cunho político, não tratamos de candidaturas, foi apenas uma conversa entre velhos amigos, inclusive com a presença dos vereadores Cabral, Paulo Renato e familiares. O Deputado usou este fato como motivo para fazer o que queria há muito tempo: romper politicamente comigo. Na realidade, ele trocou um parceiro de mais de 20 anos pelo seu maior inimigo político: Dalton Borges. Antes, ele dizia que eu era seu irmão, seu amigo e o responsável por suas vitórias. Agora, isso tudo foi esquecido, porque para ele eu não sirvo mais para os seus objetivos políticos. É como um guardanapo usado; serve em algum momento depois joga no lixo.
O Saquá – Foi isso que justificou o rompimento?
Peres – Na verdade ele não me quer como candidato a prefeito em 2012. Ele está pensando na reeleição de sua esposa, Franciane. Para suas pretensões políticas futuras ele achou que Dalton seria melhor parceiro, pois além de o apoiar para deputado agora, trazendo novos votos, seria o melhor apoiador para a reeleição de Franciane, em 2012, porque Dalton não poderá concorrer, por estar inelegível até 2013. Na verdade ele quer o poder absoluto. Tanto que ele já vinha conversando com o Dalton há mais de um ano e usou este fato como pretexto para concretizar seu objetivo. Aproveitou que eu estava viajando para falar mal de mim, inclusive na rádio, não me permitindo sequer que eu me defendesse.
O Saquá – E como você vê essa nova aliança entre Paulo Melo e Dalton?
Peres – Em política temos que ter um mínimo de ética, especialmente em respeito às pessoas que nos acompanham. Essa ligação entre eles deixa transparecer uma falta de vergonha na cara. Todos nós nos lembramos da campanha agressiva que o deputado fez contra o Dalton, com todo tipo de acusações e xingamentos. Todos nós lembramos das palavras ditas pelo Governador do Estado, é tudo muito recente. Por sua vez, as acusações de Dalton tinham o mesmo tom de agressividade. Esta união é uma bofetada na cara das pessoas que acreditavam neles! Hoje, a gente percebe que eles só querem o poder, a qualquer custo. Mas eles vão ter o troco na hora certa. O povo tem sabedoria; não pode ser menosprezado. O povo já percebeu a manobra deles e está se sentindo traído por eles.
O Saquá – Mas não é isto que eles estão dizendo; eles inclusive acreditam que vão ter muitos votos…
Peres – As pessoas estão quietas, com medo de perseguição. Os funcionários públicos não se manifestam com medo de perder o emprego; inclusive são obrigados a irem, mesmo contrariados, a todas as reuniões políticas do deputado. Os comerciantes não se manifestam com medo da fiscalização. Quem tem um documento atrasado de carro ou moto tem medo de ver seu bem apreendido, ir a depósito da Prefeitura e depois a leilão. Quem deve IPTU tem medo de perder sua casa. O choque de ordem está nas ruas atingindo sempre os mais humildes. Se nas pesquisas essas pessoas dizem que vão votar é porque têm medo da perseguição. Mas, na hora de votar, vão poder se manifestar livremente e o resultado será outro.
O Saquá – O governo tem feito muitas obras; isto não repercute em favor do deputado?
Peres – As obras de asfaltamento são importantes para a cidade, mas não é tudo. A atual administração prejudicou os funcionários municipais, cortando seus salários e direitos; abandonou a política social, deixando de amenizar o sofrimento de milhares de famílias carentes do município e, o mais grave de tudo, é que estamos vivendo uma verdadeira tragédia na saúde pública de Saquarema. Cometeram a irresponsabilidade de praticamente desativar o nosso Hospital; fecharam a UTI, construída no meu governo, que tantas vidas salvou, passando todo o precário atendimento para Araruama, retrocedendo há 30 anos atrás quando tudo na saúde dependia de Araruama, a pretexto de construir um novo hospital. Quando este novo hospital ficar pronto – Deus sabe quando – não vai trazer de volta a vida das pessoas que morreram por falta de atendimento! Hoje o povo assiste toneladas de asfalto sendo colocados em cima de asfalto já existente ou de paralelepípedos, enquanto falta remédios e atendimento no hospital. Tudo isto vai ser pesado na hora do voto.
O Saquá – E na próxima eleição, qual será a sua posição?
Peres – Eu vou votar num candidato a deputado que quer o meu voto. E este candidato vai valorizar o nosso voto, pois até agora eu votei e pedi votos para um deputado que diz que não precisa dos votos de Saquarema para se eleger. Para este candidato o voto do povo de Saquarema já não tem nenhum valor; ele se esqueceu da gratidão, porque foram os votos de Saquarema que deram início a sua carreira de deputado.
O Saquá – E como fica o seu futuro político?
Peres – Na vida, uma porta se fecha e outras se abrem. Vou procurar reorganizar o meu grupo. Vamos trabalhar para merecer mais um voto de confiança; sou muito grato ao Povo de Saquarema. Juntos, vamos dar a volta por cima.
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Matéria publicada na edição de julho
de 2010 do jornal O Saquá (edição 122)