O empresário Sérgio Delafane, da Vitória Perfil, produz hoje para o mercado interno, com os olhos voltados para a exportação
O Pólo de Desenvolvimento Econômico de Saquarema, em Sampaio Corrêa, já é realidade, desde o início de julho. Antes, o Condomínio Industrial, que operava apenas com duas fábricas de laje e artefatos de cimento, agora começa a funcionar com uma dimensão muito maior e aponta para um futuro promissor para o município, com a perspectiva de geração de cerca de 2.500 empregos diretos e 4 mil indiretos, gerados por mais de 50 fábricas.
“No primeiro semestre do ano que vem deveremos estar com mais da metade das fábricas em atividade”, comemora a prefeita Franciane Motta. “O Polo traz uma nova perspectiva econômica para a população de Saquarema”, diz Franciane.
Situado numa área de 1.000 m², no quilômetro 54 da Rodovia Amaral Peixoto, o Pólo Industrial, nesta primeira fase, vai abrigar mais de 20 empresas de pequeno, médio e grande porte, que se instalarão até o final de 2011. Algumas já estão chegando como a Lux Fios, de fios e cabos elétricos, a Eva Power, de corte a laser de emborrachados, a Bywer, de injetados de plástico e a Paper Box, que fabricará papelão ondulado. O investimento chega a 200 milhões de reais.
Atraídas pelos benefícios das leis de incentivos fiscais e financeiros — Lei 4.533/05, Lei 5.534/05 e principalmente a Lei 5.636/2010 — nas quais Saquarema foi enquadrada por iniciativa do deputado Paulo Melo, as empresas estão inaugurando um novo modelo de economia industrial no município. Dentre os atrativos para os empresários está a taxa de apenas 2% de ICMS sobre a venda dos produtos. A Investe Rio, agência do estado, também incluiu a cidade no Fundo de Recuperação Econômica dos Municípios Fluminenses (Frenf), que financia até 60% do projeto, com juros de 2% ao ano. A cessão do terreno pelo tempo que a empresa estiver em atividade e a infraestrutura com internet e energia em grande escala, além da proximidade com o Rio de Janeiro, também seduziram os empreendedores.
“Procuramos um perfil de empresas que atendessem a critérios de geração de empregos e sustentabilidade, que beneficiassem a mão de obra local e a manutenção das características naturais do município”, explica o economista Nélson Naibert, da Rosa, Naibert Consultoria, empresa que projetou e captou empresas para o Pólo. É o caso da Vitória Perfil, que começou a se instalar um julho do ano passado e depois de um ano já está operando com a primeira de suas 6 linhas de produtos: forros de PVC para rebaixamento do teto. Até o ano que vem, a empresa também produzirá portas sanfonadas, tubos e conexões, quando deverá empregar cerca de 250 funcionários.
“Os benefícios que encontramos para nos instalarmos aqui se refletem no preço do produto final, que fica mais barato”, conta Sérgio Delafane, dono da Vitória Perfil. Ex-distribuidor e transportador do produto, Sérgio está se lançando no ramo industrial com essa que é a primeira indústria neste setor no estado do Rio de Janeiro.
“Não tem indústria desse produto no Rio de Janeiro, tudo vem de fora. Estamos bastante confiantes e esperançosos, por estartar esta produção a todo vapor em Saquarema”, considera Sérgio que pretende investir, para atender a demanda do mercado interno e na diversificação dos produtos, de 20 a 30 milhões de reais, em 2 ou 3 anos. Depois, vai focar na exportação, a partir de contatos já estabelecidos em Angola e Israel.
A Sales Indústria de Alimentos iniciou suas atividades há cerca de um mês e emprega 20 trabalhadores. A empresa envasa o azeite Quinta d’Aldeia, importado de Portugal e já está produzindo aproximadamente 3 mil caixas/dia, entre latinhas de 200 ml, latas de 500 ml e garrafas de 500 ml.
Mas há espaço também, no Pólo Industrial, para outro tipo de iniciativas como a de Leandro Bastos, conhecido pescador da Colônia de Pesca Z-24 e fabricante de barcos artesanais, que ganhou um lote com toda a infraestrutura necessária para instalar a sua pequena fábrica. Ele é a prova de que os empresários locais também terão um espaço ao sol no novo Pólo Industrial, onde poderão produzir um produto melhor e mais competitivo no mercado, com toda infraestrutura e benefícios fiscais.
Gaúcho é gerador do Pólo
No Rio de Janeiro desde 2007, como consultor da Rosa, Naibert Projetos & Consultoria, o economista gaúcho Nelson Naibert, 37 anos, se destacou no mercado no Rio de Janeiro, a partir de Bom Jardim. Formado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), jovem, idealista, conseguiu viabilizar um pólo industrial, há cerca de 160 km do Rio, que projetou o prefeito de Bom Jardim, ganhou o prêmio da Firjan de maior base de empregos e hoje está concorrendo ao título de “Prefeito Empreendedor em 2009”. Agora, em Saquarema, Nelson pretende superar o êxito que conquistou em Bom Jardim. Convidado pela prefeita Fraciane Motta, com o aval do deputado Paulo Melo, aceitou o desafio do casal para viabilizar o Pólo Industrial de Sampaio Corrêa. Assim, consolidou a fama de sua empresa no município onde foi recentemente homenageado com a Comenda Barão de Saquarema, na Sessão Solene da Câmara Municipal, em comemoração ao aniversário da cidade.
O Saquá: É um grande currículo para um jovem executivo, não é?
Nelson: É verdade. Quando me formei, minha tese de mestrado foi sobre incentivos fiscais; estudei todos os incentivos fiscais do Brasil e fiz um projeto de viabilidade. Quando terminei a tese, pensei: agora vou aplicar no mercado! Eu não conhecia ninguém, mas vim para o Rio no peito e na raça!
O Saquá: Coisa de gaúcho!
Nelson: Coisa de gaúcho! E hoje estou aqui, em Saquarema-RJ.
O Saquá: Como se encontra o Pólo Industrial de Saquarema?
Nelson: Já temos 23 protocolos de intenção assinados e temos empresários esperando para receberem a área para construir. A gente adotou o conceito de shopping, com empresas âncoras, como por exemplo um laboratório que existe desde 1888 e está vindo para cá. Nós temos a intenção de ter uma indústria de bebidas. Teremos aqui muitas indústrias da área de polímero, do setor do petróleo; são 5 ou 6 empresas fornecedoras da Petrobras. Tem uma empresa que tem um braço norueguês, a Adelba Idelbras, que é baiana e vai fornecer produtos para a construção das plataformas e das sondas de mapeamento da Petrobras. Temos a Bywer, que é um grupo forte, que atende a TAM, empresa de transporte aéreo. A Bywer produz kits para embalar os lanches.
O Saquá: A rodovia vai suportar tanta movimentação de veículos?
Nelson: Tem um projeto de duplicação da rodovia e será feito um retorno para os caminhões poderem entrar. É um projeto para meados de 2011.
O Saquá: E o porto de Jaconé, em Ponta Negra, no Roberto Marinho?
Nelson: É, foi feita a liberação para o porto de Jaconé, mas ainda estão estudando. Eu acho que não só Saquarema, mas toda a região está sendo beneficiada – Maricá, Araruama, Iguaba Grande, Rio Bonito.
O Saquá: Será uma conexão com o Comperj, que está sendo construído em Itaboraí?
Nelson: O Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro está sendo feito para competir internacionalmente. O Comperj está sendo feito estrategicamente no Rio de janeiro, visando a exportação. Outra obra importante é o Arco Metropolitano, que leva direto para a Rodovia Presidente Dutra.
O Saquá: Está mudando a situação de anos de paralisia no Rio?
Nelson: Eu sou de fora; portanto isento! Hoje a gente viaja para todo Brasil e verifica que o Rio voltou a ter fluxo de investimento, credibilidade. Em Saquarema, o mérito é do deputado Paulo Melo que colocou Saquarema entre as regiões contempladas com esse benefício legal. O Pólo Industrial está virando realidade; é uma questão de estratégia de desenvolvimento, que inclusive pode se tornar modelo para outros municípios. O mérito é também da prefeita Franciane que abriu espaço para criarmos alguns regramentos para que isso acontecesse.
.
Matéria publicada na edição de agosto
de 2010 do jornal O Saquá (edição 123)