Dulce Tupy

Cultura é a minha praia, mais do que as ondas do mar

Editorial - Dulce Tupy

Cultura sempre foi a minha praia. Meu pai era advogado e um homem extremamente culto, com uma grande biblioteca, com livros herdados do meu avô, professor de química do Colégio Militar e primeiro autor de um livro de química no Brasil. Minha mãe, também advogada, tinha uma cultura plural, tendo sido artista plástica e poeta, com dois livros publicados, um de poemas e outro de crônicas. Desta forma, fui criada num ambiente cultural, numa casa na Tijuca, no Rio de Janeiro, onde minha avó tocava valsas e chorinho ao piano, dos grandes compositores Ernesto Nazareth, Chiquinha Gonzaga e canções que ela mesma compunha.

Comecei a estudar violão clássico aos 15 anos, tarde demais para fazer uma carreira musical. Antes, já havia estudado canto, no Colégio Santa Marcelina, no Alto da Boa Vista. Aos 18 anos, me matriculei num curso de fotografia e aos 19 passei em 4º lugar no vestibular para a tradicionalíssima Escola Nacional de Belas Artes, hoje UFRJ, fundada por Dom João VI, onde também estudou minha mãe e minha tia que acabou casando com um dos professores mais destacados da época, o artista plástico e arquiteto Bas Domenech, um espanhol basco que morou em Cuba e acabou vivendo e morrendo no Brasil, mas construiu a sede do Retiro dos Artistas, em Jacarepaguá, no Rio…

Cultura sempre foi a minha praia. Enquanto minhas primas e primos moravam no Leblon, eu passava os fins de semana no escritório lendo, lendo e, à noite, dormia ao som dos batuques que me chegavam aos ouvidos, vindos do morro do Andaraí. Na Tijuca conheci grandes escolas de samba, que se tornaram uma paixão para mim – Salgueiro, Império da Tijuca, Unidos da Tijuca – e muitos blocos, fantasias de Clóvis, carnaval na veia!

Depois me embrenhei na trincheira do teatro estudantil da UME (União Metropolitana dos Estudantes do Rio de Janeiro), no cinema experimental que era a tônica dos antigos Festivais de Cinema Amador, promovidos pelo JB, no final dos anos 60, e que se realizavam no Cinema Paissandu, no bairro do Flamengo. Vivi momentos de intensa boemia em Copacabana, no tempo dos polêmicos festivais da canção… E a agitada vida cultural do Rio e São Paulo, dos anos 70, passando pela tropicalíssima Bahia e por boa parte da literatura underground. Nos anos 80, viagens à África, Europa e o lançamento do meu livro “Carnavais de Guerra, o nacionalismo no samba”, oriundo de uma bolsa de estudo que ganhei num concurso da Funarte (Fundação Nacional de Arte).

Como jornalista, atuei em várias editorias de cultura, em redações de revistas e jornais, fazendo reportagens de cultura em vários órgãos da grande imprensa e da chamada imprensa alternativa, e como crítica de música da Revista Visão. Tive a honra também de trabalhar na revista Módulo, do genial arquiteto Oscar Niemeyer. E, assumi uma assessoria na Secretaria do Estado da Cultura, nos anos 90, e em seguida a direção do Museu Carmem Miranda, até 1996. Envolvida com a cultura brasileira durante toda a minha vida, deixei o conforto das grandes cidades para vir morar em Saquarema, nos final dos anos 90, onde fui assessora de imprensa da Câmara Municipal. Aqui criei uma editora de livros, a Tupy Comunicações, que publicou 8 livros em pouco mais de 2 anos e edita o jornal O SAQUÁ há 10 anos. Portanto, acho que tenho legitimidade para indagar: o que será, que será, que vai acontecer com a Casa de Cultura de Saquarema, onde também funciona a Biblioteca para a qual doei tantos livros? Construída em 1841 e doada para a Câmara Municipal pelo Barão de Saquarema, é um monumento histórico que deve ser preservado.

Capa O Saquá 123

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Artigo publicado na edição de agosto
de 2010 do jornal O Saquá (edição 123)

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