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Dalton Borges: ele é o cara

Dalton Borges assumindo sua nova fase política. Foto: Edimilson Soares

Entrevista exclusiva com o ex-prefeito Dalton

Filho de uma família tradicional do terceiro distrito, Sampaio Corrêa, Dalton Borges é 100% saquaremense. Formado em veterinária, sua paixão é a política, atividade que abraçou aos 30 anos de idade, em 1988, quando se tornou pela primeira vez vereador, tendo sido reeleito em 1992 com cerca de 5% dos votos, o mais votado naquela eleição, com apoio do deputado Paulo Melo e do ex-prefeito Carlos Campos. A partir daí, nunca mais parou de estar nas ruas, junto com o povo, como político. Eleito vice-prefeito de Carlos Campos, em 1996, um ano e meio depois assumiu o cargo de prefeito, devido ao afastamento do prefeito Carlinhos, por motivo de saúde, mas não foi reeleito, em 2000, perdendo por aproximadamente 500 votos para Antonio Peres que governou Saquarema por dois mandatos, de 2001 a 2008. Com um carisma inegável e uma simpatia à flor da pele, Dalton Borges ficou afastado do poder, durante os 8 anos do governo Peres, tornando-se o principal líder da oposição, por quase uma década (contando com os quase 2 anos do governo Franciane Motta). Mesmo sem infraestrutura, conseguiu manter seu grupo político unido e, na última eleição, em 2008, ganhou da prefeita Franciane em número de votos, que foram anulados, devido a processos judiciais relativos a seu mandato como prefeito, tendo sido impedido de tomar posse pela Justiça Eleitoral.

Agora, como pássaro Phoenix, ressurge das cinzas e aparece como principal trunfo no grupo do deputado Paulo Melo, seu amigo de outrora, quando ambos foram vereadores na Câmara Municipal mas depois se colocaram em campos opostos. Hoje, nas reuniões do grupo, Dalton se destaca com sua voz firme, um timbre agradável e palavras fáceis de ouvir. Com raciocínio rápido e fala mansa, vai convencendo a todos de que neste momento é preciso somar forças. E o resultado já começa a vir à tona. Segundo Dalton, ao se unir ao deputado, o grupo político fruto da união dos dois se fortaleceu, o que pretende comprovar em breve, com olhos no futuro. Se eleito com expressiva quantidade de votos, Paulo Melo tem tudo para ganhar a presidência da Assembléia Legislativa (ALERJ), um cargo que até agora nenhum saquaremense ousar sonhar. E Dalton Borges, se tiver paciência de esperar até 2013, poderá ser candidato de novo, com as bênçãos de Nossa Senhora de Nazareth. Ao lado da esposa Rosangela, em sua casa, no centro de Bacaxá, Dalton recebe a imprensa com um ar de velhos amigos. Aos poucos a conversa vai rolando. E o que se vê é um Dalton maduro, mas renovado com esta aliança com o deputado Paulo Melo. Porém, é o Dalton Borges de sempre.

O Saquá: Onde você nasceu e como foi a sua infância?

Dalton: Nasci em Sampaio Corrêa, no Corato, no Beco de Seu Arnufo, pai de vô. Nasci de parteira, em 29 de junho de 1958, na hora do gol do Vavá que deu a vitória da Copa de 58 ao Brasil. Sampaio, naquela época, não tinha luz, nem água encanada. Estudávamos à noite com luz de candieiro e tomávamos banho de balde. Mas foi uma infância maravilhosa. Lembro quando os tratores da Usina Santa Luzia, puxando 16 carretas de cana na subida tinham que reduzir; escondidos no mato – eu, Zostinho, Paulo Ivo, Landico, Zé Coelho e outros grandes amigos – puxávamos as canas para chupar… Assim foi minha infância; falaria horas dela… Mas, por culpa do destino, em 1971 – eu com 13 anos – perdemos papai num acidente de carro na Estrada do Jardim, justamente com uma camionete da Usina que bateu no carro dele, aos 41 anos de idade. Mas o destino logo pegaria mais uma peça em nós, 5 irmãos, 1 ano depois; morria minha mãe em um acidente de ônibus da 1001, com apenas 36 anos de idade. Ela foi a mulher mais linda e maravilhosa da minha vida. Mas Deus é sabedor de tudo e nos colocou nos braços de nossos avós maternos que nos deram educação e nos prepararam para enfrentar os percalços da vida. Somos uma família unida, de princípios. Deus foi generoso conosco. Aos 18 anos, fiz concurso público e ingressei no Ministério da Aeronáutica; conheci Rosangela, minha amada, namoramos e nos casamos. Tivemos dois filhos lindos e maravilhosos: Milene e Matheus. Me formei em Veterinária na UFF (Universidade Federal Fluminense), em Niterói, e começamos nossas vidas, até que o destino me colocou na política, quando em 1988 Carlos Campos me convidou para ser candidato a vereador. Aí começa um novo capítulo de minha vida.

O Saquá: Como foi sua trajetória política?

Dalton: Fui vereador de 1988 a 1992; fui líder de Carlinhos (ex-prefeito Carlos Campos) na Câmara. Depois me reelegi, com apoio de Carlos Campos e de Paulo Melo, já deputado estadual. Na época, fui o vereador mais votado, com 5% dos votos válidos. Em 1994, reelegemos Paulo Melo e, em 1996, o grupo se dividiu com o rompimento de Carlos Campos e Antonio Peres. Naquele momento, eu e Paulo Melo nos separamos politicamente. No mesmo ano, Carlos Campos se elegeu prefeito e eu vice-prefeito. Nos palanques da campanha começaram os acirramentos políticos que nos levaram, eu e Paulo, a 14 anos de briga.

O Saquá: Na oposição, como você conseguiu manter o seu grupo político unido, que lhe deu a vitória em quantidade de votos na última eleição?

Dalton: Construí um grupo na base da confiança, no amor e no trabalho. E tenho certeza que grande parte do grupo entendeu a minha decisão e está me acompanhando nesta nova trajetória de minha vida política. Às vezes na vida temos que dar uma passo atrás, para darmos dois para frente.

O Saquá: Qual o seu futuro político?

Dalton: Sempre fui de grupo. Fizemos uma aliança por Saquarema e esta aliança é que vai determinar nosso futuro.

O Saquá: Qual a importância da redução do ICMS, implantada recentemente no município?

Dalton: Para mim, a maior obra de Paulo Melo foi reduzir o ICMS das indústrias de 19% para 2%. Nos próximos anos, Saquarema será outra em relação a emprego. Sempre defendi nos meus discursos que o maior desafio do gestor público é criar emprego e renda. Essa atitude de Paulo Melo que veio beneficiar o Condomínio Industrial em Sampaio Corrêa influenciou muito na minha decisão de fazermos uma aliança. Se eu tinha que tomar uma decisão política, tinha que ser por aquele que trabalha pelo bem da cidade. O Condomínio Industrial foi uma idéia minha, para geração de emprego e renda. Quando fui prefeito, desapropriei 150 mil metros quadrados em Sampaio Corrêa e implantei o Condomínio Industrial. Mas perdi a eleição e o prefeito que assumiu, o Peres, abandonou o Condomínio Industrial por 8 anos, não pensando no povo, só porque fui eu que fiz! O Paulo não pensou assim; aumentou o Condomínio para 1 milhão de metros quadrados e dezenas de indústrias já estão sendo instaladas. Agora, recentemente, a prefeita Franciane Motta desapropriou mais 1 milhão de metros quadrados para instalar novas indústrias; pensou no povo que precisa trabalhar. Logo Sampaio voltará a respirar como na época da Usina Santa Luzia.

O Saquá: E a sua aliança política com o deputado Paulo Melo?

Dalton: A decisão que tomei hoje eu teria que tomar daqui a 2 anos, porque com os acirramentos nos palanques, fatalmente teríamos que fazer aliança com o Peres e isso não poderia acontecer, por tudo que ele fez comigo e com o meu grupo. Peres abandonou o Condomínio Industrial, deixou a Casa do Futuro acabar, para depois dizer que estava enfeiando a praça e derrubar; trocou a Cruz de lugar, no Morro da Cruz, para que ninguém visse mais e não se lembrasse de mim… Tentou apagar da memória do povo tudo que fiz! Coisa de político pequeno! O ex-prefeito falou numa entrevista um monte de bobeiras a meu respeito, esquecendo que, até a eleição de 2000, o ex-prefeito Jurandir Mello denegria sua imagem e ele se dirigia ao ex-prefeito Jurandir como “o baixinho do mal”… No entanto, eles fizeram uma aliança em 2000 para me derrotar nas eleições! Ora, Peres, pare de jogar pedra no telhado dos outros, pois o seu é de vidro! Não tenho mansão na praia, não tenho condomínios em Itaúna e nem paguei a empregada da minha casa com o dinheiro da Multiprof (cooperativa conveniada com a Prefeitura). Para de falar em ética, porque você não tem. Nunca falei mal do deputado Marcos Abraão, que é meu amigo; não ficamos juntos por questões políticas. Mas você se lembra do que você falou do deputado que apóia hoje? Do que você o chamou, lembra? Bota a viola no saco, pois não tem moral para falar de ninguém. Peço desculpa ao povo de Saquarema pelo meu desabafo, mas era preciso. Um abraço a todos e um beijão no coração.

Capa O Saquá 123

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Matéria publicada na edição de agosto
de 2010 do jornal O Saquá (edição 123)

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