“Borboleta é pétala que voa”, escreveu Clarice, nossa Clarice Lispector. E essa poética frase remeteu-me, imediatamente, a um sábio provérbio chinês: “A felicidade é como a borboleta: quando a perseguimos nos escapa; quando desistimos de persegui-la pousa em nós”… Meu pensamento costura lembranças: borboletas e felicidade… Pronto, encontrei o tema para esta crônica. E do baú encantado da poesia, a luz de Tagore: “A borboleta conta momentos, não meses, / e tem tempo bastante”… E a lembrança dos tempos escolares, com os versos de Vicente de Carvalho sobre a felicidade, que “não a alcançamos / porque está sempre apenas onde a pomos / e nunca a pomos onde nós estamos”… Será?…
Já José Saramago não gostava de falar sobre o assunto: “Não gosto de falar de felicidade, mas de harmonia: viver em harmonia com a nossa consciência, com nosso entorno, com a pessoa que queremos bem, com os amigos. A harmonia é compatível com a indignação e a luta; a felicidade não, a felicidade é egoísta”… Reflexões que estimulam a nossa reflexão…
Mas aqui não poderia faltar a contribuição da “pastora de nuvens”, Cecília Meireles: ”És precária e veloz, Felicidade. / Custas a vir e, quando vens não te demoras. / Foste tu que ensinaste aos homens que havia tempo, / e, para te medir, se inventaram as horas.”
Por fim, a palavra de Érico Verissimo, que não deixa de ser um alerta para esses nossos dias tão atribulados: ”Felicidade é a certeza de que a nossa vida não está se passando inutilmente”…
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Artigo publicado na edição de outubro
de 2010 do jornal O Saquá (edição 126)