Na invasão do Complexo do Alemão, no Rio, pela Polícia Militar, Polícia Civil e militares do Exército e fuzileiros navais, foi descoberta uma enfermaria para atendimentos aos feridos do tráfico. A prática de enfermarias improvisadas é bastante comum nos morros e favelas cariocas. Quando os meliantes entram em confronto com a polícia ou com outras facções do crime organizado, se ficam feridos, são atendidos nessas enfermarias.
No Complexo do Alemão, a enfermaria era azulejada, existiam focos cirúrgicos, macas, medicamentos (antibióticos, psicotrópicos, anestésicos e sedativos), equipamentos médicos cirúrgicos e materiais de primeiros socorros, como já foram encontradas enfermarias no Jacarezinho, em Manguinhos e no Vidigal, entre outras favelas e morros dominados pelo tráfico de drogas. Os meliantes, como não podem encaminhar os feridos para os hospitais públicos, encaminham os feridos para o interior de uma área designada como enfermaria e lá são realizados os procedimentos médicos e de enfermagem.
Para nós termos a dimensão da organização paralela, em uma das operações da DCOD (Delegacia de Combate às Drogas), o serviço de inteligência descobriu que o crime organizado possuía até um serviço de reabilitação que, segundo informações, realizava o primeiro atendimento em um local e, depois, o ferido era transferido para um outro local, denominado de centro de recuperação…
Os conselhos de Medicina e Enfermagem, quando descobrem os seus profissionais envolvidos com essas ações, procuram excluir de seus quadros esses profissionais e até cassam o registro profissional dos envolvidos. O profissional também é enquadrado em crime de associação ao crime organizado.
Alerto aos colegas que trabalham em hospitais ou outros serviços de saúde que fiquem atentos para o controle eficaz dos equipamentos médicos e medicamentos, pois como aconteceu no Complexo do Alemão e em tantas outras operações em áreas dominadas pelo tráfico, sempre estão sendo encontrados equipamentos médicos hospitalares e medicamentos específicos para atendimento aos feridos. Estes materiais e medicamentos encontrados muitas vezes são desviados ou furtados dos hospitais públicos.
Finalizando, desejo a todos os leitores um Feliz Natal e um Ano Novo repleto de amor e paz.
Artigo publicado na edição de dezembro de 2010 do jornal O Saquá (edição 128)