A ONU revelou recentemente que, para os brasileiros com mais de 25 anos, a média do tempo de estudo (7,2 anos) é igual a do Zimbábue, um país africano que tem o pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do mundo. A maioria da população brasileira nunca ouviu falar do Zimbábue e, muito menos ainda, sabe que é nome de um país. Que país é este? Um país igual ao nosso em matéria de desenvolvimento humano, o pior do mundo! Na véspera da divulgação dos novos Índices de Desenvolvimento Humano pelas Nações Unidas, a presidente eleita, Dilma Rousseff, disse algo preocupante, ao deixar transparecer que a educação não seria problema para o seu governo “porque estava muito bem encaminhada”. Está enganada.
É fundamental que Dilma e o Congresso, que assume em fevereiro, façam uma correta leitura da mensagem da ONU. Quando o lulopetismo alardeia a redução da pobreza nos últimos anos e promete que tudo vai melhorar com Dilma, a pesquisa da ONU configura um alerta para o fato de que o Brasil vai bem em diversas áreas, mas o futuro do país não está garantido. O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (Pnud), responsável pelos IDHs, fez uma avaliação de 40 anos de desenvolvimento, na qual constatou que a má qualidade da educação é o principal entrave ao crescimento do país. Embora muitos não reconheçam, existe uma verdade que especialistas consideram incontestável, segundo a qual “educação é matéria de salvação pública.”
Antes dos dois governos FHC, educação era uma simples peça do jogo político, nomeando-se sem critério o ministro. Nos governos FHC, a pasta coube ao ministro Paulo Renato, que dominava o assunto e permaneceu vários anos no cargo, com ótimos resultados como, por exemplo, a quase universalização do ensino básico, oferecendo também, pelo menos, uma refeição diária. Isto feito, ainda resta quase tudo por fazer. Embora perto de universalizar-se, a educação básica permanece com qualidade lastimável. O governo Lula, por sua vez, passou 8 anos discutindo universidade. Esse é um dos paradoxos de um governo que se afirmava de esquerda, “como defensor intransigente das camadas mais pobres.” Os mais pobres não estão na universidade, significando que, em matéria de educação, foram abandonados pelo governo que está terminando.
Uma radiografia dos gastos públicos no governo Lula mostra que as despesas cresceram acentuadamente entre 2003 e 2010, mais que a expansão do PIB que, em média, foi de 4% ao ano. Áreas como a da Educação ficaram somente com uma pequena fatia desse bolo. As despesas correntes cresceram 2,47 pontos percentuais, mas apenas 8% deste aumento foram destinados à educação. Em termos de gasto por aluno, entre países da Organização para a Cooperação ao Desenvolvimento Econômico (OCDE), o último levantamento coloca o Brasil em penúltimo lugar na relação de 33 países, só ganhando da Turquia. O Brasil não investe o que deveria para melhorar o ensino e reter os alunos nas salas de aula, principalmente no ensino médio. Gasta o que não pode e compromete o futuro do país ao não qualificar as novas gerações para a espantosa velocidade das exigências impostas pelo mundo moderno em relação ao mercado de trabalho. É, de fato, o triste IDH Tiririca.
Artigo publicado na edição de dezembro de 2010 do jornal O Saquá (edição 128)