Todo início de ano a gente renova a esperança em dias melhores que virão. E tudo conspira para isso. Afinal, é para a frente que caminha a humanidade. Aos poucos, vamos aprimorando nossa conduta, nos adaptando cada vez mais à natureza, aperfeiçoando nossos valores. Êpa! Em que mundo nós estamos? É isso mesmo que está acontecendo? Acho que fui muito longe… O mundo real em que vivemos ainda está muito perto da barbárie.
Basta ver a enorme distância que existe entre as classes sociais, principalmente nos países emergentes como o nosso. Como é injusto os membros dos poderes executivo, legislativo e judiciário ganhem tanto dinheiro, com seus salários absurdos, e o salário mínimo ser uma insignificância, muito abaixo do que valia quando foi criado pelo então presidente Getúlio Vargas, nos anos 40! Naquela época, o salário mínimo foi criado para dar segurança aos trabalhadores e garantia todo o custeio da casa e do transporte dos trabalhadores.
Como se explica que hoje um presidente, um deputado ou um juzi ganhe mais de 26 mil reais, enquanto o salário mínimo proposto pelo ex-presidente Lula não passa de R$ 540,00? Gente, é ridículo, se não fosse trágico! É uma verdadeira discrepância nacional.
Mas a esperança é maior que tudo. Ainda acredito que vamos conseguir viver numa sociedade mais igualitária. Nos anos 60, minha geração, que também é a da presidenta Dilma, foi à luta e se arrebentou completamente. Nos anos 70, mergulhamos na escuridão da ditadura militar e na sua face oculta: as curvas sedutoras das drogas. Milhares de amigos e amigas morreram sufocados, bêbados, narcotizados e literalmente vencidos. Os que restaram caíram de cabeça no trabalho e foram se adaptando ao capitalismo selvagem.
O viés ecológico chegou junto com a Rio-92 e foi um bálsamo para tantas feridas, revelando um caminho que talvez seja a nossa redenção, em termos planetários. O ambientalismo se espalhou como solução, apontando para o desenvolvimento sustentável. Acho que é possível sim termos salvação, neste cenário de trevas, guerras e corrupção em que se transformou o mundo moderno. Um mundo em que, finalmente, assistimos pequenas mudanças, como a eleição de um negro nos Estados Unidos, o presidente Barak Obama e de uma mulher, a presidenta Dilma, no Brasil.
É pouco, mas foi o possível. O tempo histórico é lento. Estamos plantando para as futuras gerações. Tudo tem um ritmo próprio, como esses fatos aparentemente isolados neste tempo em que nosso planeta navega, gira e se sustenta no oceano do universo.
Artigo publicado na edição de janeiro de 2011 do jornal O Saquá (edição 129)