Torcedor de futebol é daqueles que coloca a emoção acima de tudo e de todos. Acorda xingando e pode dormir endeusando. Nada mais do que normal, visto que a palavra que define o esporte é a paixão. Porém, a crise na qual o Vasco da Gama se afundou nas últimas semanas me levantou uma questão. Por um lado, o time está visivelmente desmotivado e deve ter suas razões. Porém, os torcedores pagaram os ingressos e exigem uma atuação, no mínimo, razoável. Quem está com a razão?
Ninguém vive o dia-a-dia de um clube e muito menos conhece a relação entre os jogadores, a comissão técnica e a diretoria. Muito antes de figuras públicas, todos ali são seres humanos, com direito a todas as emoções e sentimentos que uma pessoa pode ter. Se o ambiente está ruim e os atletas desmotivados, isso, fatalmente, refletirá em campo. Não creio que a expressão certa seja corpo mole ou má vontade, mas desmotivação. Por outro lado, também dou toda a razão para o torcedor protestar, até porque ninguém é de ferro e dinheiro não nasce em árvore. Além do mais, apesar de não ser vascaína, entendo que deve estar doendo ver o time do coração perder de forma apática. Ainda mais com as piadinhas dos rivais, que não perdem tempo e já vão chateando: “Se até o trema que tem dois pontos caiu, imagina o vasco que não tem nenhum”.
Este dilema persegue todos os fanáticos por futebol desde que o mundo é mundo. Crises chegam e passam e é assim que funciona o esporte. Entretanto, a perda da confiança do torcedor no atleta desgasta ainda mais a carreira do jogador no clube e isso antecipa crises futuras, que parecem inevitáveis. Quando tudo parece insustentável, é preciso que o torcedor respire fundo e perceba que a melhor forma de se apoiar um time é torcendo e lotando o estádio. Caso contrário, a ira da torcida vai atingir o jogador, que vai responder e a crise não se resolve.
Artigo publicado na edição de fevereiro de 2011 do jornal O Saquá (edição 130)