Parece que foi ontem: tenho a sensação dos fogos pipocando e maravilhando o céu, as pessoas alegres, sorridentes e felizes, saudando a chegada de 2011, num desejo coletivo de paz e esperança de melhores dias.
E nem bem nos acostumávamos ao início da segunda década do Século XXI e a tragédia, sorrateira, já rondava a vida de tantos em São Paulo, região Serrana do Rio e sul de Minas Gerais.
Choveu forte e continuamente. Muitas encostas desceram carregando e destruindo o que havia pela frente. Rios transbordaram tornando-se caudalosos e trazendo um cenário de dor e lágrimas. Os jornais noticiaram a perda de muito mais de 600 vidas, sem contar os desaparecidos. Natureza e imprevidência, como sempre.
Mas em meio a tudo isso, a solidariedade, como raio de luz, aflorou e amenizou a amargura. Como por exemplo, a do cachorrinho vira-lata Caramelo, que ajudou a resgatar os corpos de seus donos e não arredou pé da sepultura de sua dona, morta em Teresópolis. Ele vivia com ela e outras três pessoas numa casa do bairro Caleme, um dos mais devastados de Teresópolis. A casa foi soterrada, todos morreram e só ele escapou. Quando as equipes de resgate chegaram ao local, foram guiadas por Caramelo até os corpos de seus entes queridos. Mais tarde, ele foi resgatado pela ONG “Estimação”, pois não queria sair do lado da cova da sua dona. Dizem que, depois dessa tragédia, ele ficou extremamente carente e pula no colo de qualquer pessoa que dele se aproxime…
“Amar não acaba”… escreveu Clarice. E ela tem razão, como sempre…
P.S. No momento em que esta crônica foi escrita e enviada ao jornal O Saquá, para publicação, essa era a versão do fato – que comoveu o país – dada pela imprensa.
Artigo publicado na edição de fevereiro de 2011 do jornal O Saquá (edição 130)