2011 começou e segue turbulento. O calorão de janeiro e fevereiro. As enchentes e enxurradas em Petrópolis e Friburgo. O terremoto e as “tsunamis” que arrasaram o Japão, o acidente nuclear e as consequências nefastas de irradiação e contaminação. Os atos extremados de Kadafi e a intervenção militar dos países aliados na Líbia, autorizada pela ONU.
Cenas de horror, estupefação, consternação. Por mais que nos preparemos para os absurdos que acontecem na vida, será que algum dia estaremos suficientemente preparados para o que o mundo tem assistido de inacreditável em tão curto espaço de tempo? Por mais que tentemos seguir em frente, o impacto do que temos visto certamente permanecerá em nós, na área da nossa subjetividade. E aí, para readquirirmos o equilíbrio interior e psíquico, a paz de espírito e a alegria de viver, leva tempo e exige todo um esforço determinado nessa direção.
Mas, por outro lado, enleva-nos saber que “Branquinho”, um cachorro vira-lata, com um olho azul e outro castanho, que vive na área externa do Hospital Souza Aguiar, no centro do Rio, espera, incansavelmente por seu dono, um catador de papéis que vivia nas ruas, passou mal, foi atendido no hospital, mas não resistiu e morreu.
“Branquinho” espera por seu dono há cinco anos, na esperança de reencontrá-lo. Sentinela do invisível, ninguém consegue tirá-lo de lá.
A exemplo de outros casos célebres de fidelidade canina além da vida, ele também já estaria a merecer uma estátua em sua homenagem.
Artigo publicado na edição de abril de 2011 do jornal O Saquá (edição 132)