Entre o nascer e o morrer, vivemos. E procuramos fazê-lo da melhor maneira possível. Mas sendo o ser humano o único animal que sabe que vai morrer, isto é um dado que interfere na sua existência. Dizem mesmo que aí estaria a fonte da angústia humana.
Preparamo-nos para a vida e deveríamos nos preparar para a morte, já que ela é inevitável. Mas será que algum dia estaremos suficientemente preparados para elas? Nos versos iniciais de meu poema “DESPREPARO”, abordo o tema: Por mais que me prepare para a vida / não estou preparada pra viver. / Por mais que me prepare para o amor / não estou preparada para amar. / Por mais que me prepare para a dor / não estou preparada pra sofrer. / Por mais que me prepare para a morte / não estou preparada pra morrer.
Despreparo para a vida, para o amor, para a dor, para a morte. Por mais fortes que sejamos, sempre estaremos vulneráveis a esses desafios.
Mesmo a morte dos outros nos afeta em diferentes graus, mas quando se trata da morte de filhos aí estaria o ponto máximo da estatística da dor, segundo a Folha de São Paulo, de 19/04 passado. “Os americanos fizeram uma curva de dor” e “o ponto máximo é a perda de um filho homem de 20 anos, que não procriou (se ele teve filhos a dor é menor) e morreu de acidente. (…) A partir daí, a curva da dor se estabiliza, para começar a cair se o(a) filho(a) passou dos 35 sem procriar”, informa o Dr. Francisco Daudt, psicanalista, médico e autor da crônica “Com a morte na cabeça”, publicada no referido jornal, na mesma data, em que ele ainda define luto como sendo “o processo de digestão da perda”.
Mas, para amenizar, Dr. Daudt finaliza citando Freud: “o fim do luto é a herança calorosa das boas memórias”.
Artigo publicado na edição de maio de 2011 do jornal O Saquá (edição 133)