Jean em inicio de carreira com os índios Ianomamis na Amazônia brasileira
Ele fez parte do chamado jornalismo heróico, que se fazia nos anos 1950 e 1960, quando as principais revistas do país começavam a publicar grandes reportagens ilustradas com fotografias. O Cruzeiro, Quatro Rodas e Realidade foram algumas das mais importantes publicações de um país que estava se redescobrindo na arquitetura de Brasília, no Cinema Novo, no Teatro de Arena e na bossa nova, um gênero musical que ultrapassou as barreiras do som nativo e se espraiou pelo mundo. O fotógrafo francês Jean Solari surfava nessa onda sem saber que faria história. É um dos raros jornalistas que trabalhou nas três maiores revistas nacionais e que ainda pode contar, ao vivo e a cores, episódios desta fase pioneira do jornalismo brasileiro.
“Meu pai era diretor da Mesbla”, uma grande loja, “magazine”, que existiu no centro do Rio de Janeiro, conta Jean, em sua pitoresca casa, em Itaúna. Cercado de árvores da restinga, de vez em quando é visitado por micos do tipo leão dourado, se orgulha ele. No fundo da casa, há uma padaria caseira onde a filha prepara deliciosos pães e “galettes”, uma tradição francesa que permanece na família. Comendo esses biscoitos finos e tomando café, a conversa passeia por boa parte de sua vida, desde que saiu de O Cruzeiro, no Rio, para ganhar o dobro na revista Quatro Rodas, em São Paulo.
Repórter fotográfico que participou de grandes coberturas jornalísticas nacionais e internacionais, Jean fotografou o papa Paulo VI em Jerusalém, fez a posse dos presidentes Jânio Quadros, João Goulart e Castelo Branco, em Brasília, cobriu o Gran Prix de automobilismo em Mônaco, Espanha, Alemanha e Bélgica, na Europa, antes de chegar à redação da revista Realidade, um marco no jornalismo brasileiro, onde participou das célebres edições especiais sobre a Amazônia, Rio São Francisco e Nordeste. O Brasil não conhecia o Brasil com sua imensidão, e paisagens intensas eram capturadas pelas lentes de uma nova geração de fotógrafos, entre eles Jean Solari. As reportagens retratavam tribos indígenas, como os ianomâmis, que chamavam a atenção do público que corria às bancas de jornais, em busca da informação que só chegava através das páginas coloridas das revistas, numa época em que a televisão estava engatinhando…
São mais de 50 anos de jornalismo fotográfico. Tudo guardado na memória, nos arquivos de aço e no computador de Jean, em seu escritório. Aos poucos, vai mostrando as fotos que trouxe da exposição realizada na Universidade Federal de Juiz de Fora (MG), patrocinada pela Petrobras. Fala também de sua expo retrospectiva na Caixa Cultural Salvador, na Bahia. Ex-professor de fotojornalismo da Fundação Armando Álvares Penteado/FAAP, em São Paulo, Prêmio Esso e Prêmio Sudene de Jornalismo, com exposições no MAC (Museu de Arte Contemporânea) e na Bienal de São Paulo, Jean Solari é mais um cidadão na porta da Prefeitura de Saquarema. Ninguém desconfia que dentro dele vive um fotógrafo que revolucionou a linguagem do fotojornalismo brasileiro, com sua percepção sutil e seu olhar profundo, que permanece até hoje, atrás das lentes dos óculos.
Matéria publicada na edição de maio de 2011 do jornal O Saquá (edição 133)