“Ai daquele que está só”, adverte o Eclesiastes. Talvez, por esta advertência tenha me assustado com as palavras de Guilherme Genestri, na “Folha de São Paulo”: “Solidão virou epidemia. Há mais casas habitadas por uma única pessoa e estamos confiando menos uns nos outros, dizem as pesquisas”. Realmente, segundo o IBGE, “o número de casas habitadas por uma única pessoa passou de 7% para 12% no Brasil”. É significativo, mas chega a ser preocupante? Se formos para a poesia, “Tudo é só, a montanha é só, o mar é só. /A lua ainda é mais só./Se encontrares alguém / Ele está só também.” (Dante Milano).
Sabemos ser o homem um animal social que busca o seu semelhante para viver. Isso, desde sempre. Por outro lado, “nascemos para amar. Para isso, sem consulta, fomos depositados neste planeta”, escreveu Oscar Niemayer.
Mas parece que mesmo quando estamos acompanhados, quantas vezes a solidão está presente… “Se procurares a solidão, anda no meio dos homens” (Imre Madách) … E parece também que mesmo havendo afinidade entre as pessoas, e até amor, cada um é cada um, com suas características, temperamentos, predileções… Impossível esquecer as palavras definitivas de Clarice Lispector: “E ninguém é eu. E ninguém é você. Esta é a solidão.”
O poder não espanta a solidão: “O homem mais poderoso do mundo é o que está mais só” (Ibsen); muito menos a fama e a glória: “Quero ficar só” (Greta Garbo).
Vale acentuar a necessidade de estarmos sós, em sintonia com a nossa essência, para avaliarmos, periodicamente, a nossa vida (longe das influências externas da tecnologia, dos meios de comunicação, da zoeira do mundo moderno) e tentarmos responder a perguntas básicas: eu estou sendo feliz? O que está em minhas mãos fazer para ser o mais feliz possível nesta vida? Eis a solidão positiva, construtiva, indispensável.
Artigo publicado na edição de junho de 2011 do jornal O Saquá (edição 134)