Recentemente, em palestra proferida sobre Erico Verissimo, na Academia Guanabarina de Letras e Sociedade de Cultura Latina (RJ), num determinado trecho, ressaltamos que, ao ser o escritor indagado se tinha algum medo, ele respondeu: o “medo de perder a capacidade de indignação e cair na aceitação, que é sempre perniciosa para a vida em sociedade.” Bem, já lá se vão quase 36 anos que Erico partiu para a eternidade, mas suas palavras continuam atualíssimas.
Dois dias depois da referida palestra, folheava o jornal de manhãzinha, quando encontrei: Indignai-vos é o novo “best-seller” na França, com mais de um milhão e meio de exemplares vendidos. Seu autor, Stéphane Hessel, um indignado de 93 anos, é “escritor humanista, judeu sobrevivente dos campos de concentração nazistas, herói da Resistência francesa durante a 2ª Guerra Mundial e um dos redatores da Declaração Universal dos Direitos Humanos”.
Em seu livro de 29 páginas – e apenas 13 de texto – ao custo de três euros, ele conclama “cidadãos do mundo inteiro a não ficarem de braços cruzados diante da lei dos mercados, de governos injustos ou dos ditadores”, segundo a correspondente de O Globo em Paris, Deborah Berlinck.
Hessel se assustou com o sucesso do seu livro e diz-se surpreso e encantado por seu texto haver interessado a 30 países (inclusive ao Brasil). Segundo ele, a explicação para isso estaria no fato de haver tocado na ferida que incomoda todo mundo atualmente: “a impotência diante da crise e da lei dos mercados, além da falta de clareza sobre a direção em que o mundo está indo.”
Erico e Hessel, vozes convergentes: Indignai-vos! Indignai-vos!
Ps. Face à importância do tema acima, preferi descumprir o prometido e deixar a viagem a Itacaré – paraíso baiano – para uma outra oportunidade. Estou perdoada?