Quase que ao mesmo tempo em que um ato pró-reforma política, engavetada no Congresso, se realizava em Brasília, seis ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) votavam a favor do registro do 28° partido político do país, o PSD (Partido Social Democrático), após muita polêmica sobre eventuais fraudes nas assinaturas de apoio apresentadas. De acordo com o TSE, o PSD está apto a disputar as eleições municipais de 2012. Como nova legenda, o PSD representa uma descarada brecha da própria lei para burlar a fidelidade partidária, já que é a única hipótese, além da expulsão, para um político trocar de partido sem perder o mandato.
Assim, a ressurreição do PSD, cuja principal liderança foi o ex-presidente JK, repete a sina desta histórica sigla, a de servir para acomodar as insatisfações pessoais dos políticos fisiológicos. O PSD ressurge como bandeira para o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, escapar do emparedamento entre tucanos e petistas, visando as eleições municipais do ano que vem. Exatamente, numa hora em que pesquisa do Ibope sobre o Índice de Confiança Social, entre 16 instituições, aponta os partidos políticos com a pior nota (28 pontos), enquanto Bombeiros ficaram com a melhor (86) numa escala que vai de zero a cem, surge mais um partido que, segundo seu reinventor, “não é de direita, nem de esquerda, nem de centro”, nem de nada, objetivando exclusivamente as alianças não importa com quem, dependendo apenas das “condições” oferecidas.
O PSD nada acrescenta a não ser engrossar o já fermentado caldo partidário brasileiro. Mas pode ser que ao menos sirva para recolocar, na ordem-do-dia, as propostas de cláusulas de barreira, ou desempenho, necessárias para desinfetar este quadro partidário poluído por tantas legendas nanicas, de aluguel. Várias são, de fato, somente guichês de negociatas onde são vendidos os horários na programação política dita gratuita, apoios em coligações etc. Sem falar no dinheiro fácil que seus “dirigentes” faturam do nosso bolso transferido para o Fundo Partidário e, obrigatoriamente, distribuído entre todos os partidos, inclusive os de aluguel, é claro. Tanto que os responsáveis pela ressurreição do PSD vão agora correr atrás deste Fundo e do tempo no rádio e na TV, levando em conta os votos recebidos na eleição passada pelos políticos que acabam de migrar de outros partidos. Só pelos últimos três meses de 2011, o PSD vai abocanhar, segundo cálculos preliminares, algo em torno de R$ 5,7 milhões provenientes do Fundo Partidário. Um grande negócio, não é não?
Num presidencialismo de coalizão, como o nosso, o grande número de legendas, diante da dificuldade de serem alcançadas maiorias nas urnas, leva inevitavelmente ao que está sendo chamado de “presidencialismo de transação”. A definição que Kassab dá para o PSD enquadra-se perfeitamente no pulverizado quadro partidário brasileiro. Com raríssimas exceções, composto por legendas sem ideologia clara, muito menos projeto de governo e poder. Como o fisiologismo passou a guiar as negociações para as alianças, principalmente após a ascensão do lulopetismo em 2003, até os partidos com história de luta política ideológica abandonaram o rumo programático e também embarcaram no indecente pregão do toma-lá-dá-cá regido por Brasília.