Engasgou a catingosa
No regato do Sítio da Catingueira, onde a família de Godofredo além de encher os potes e as moringas, tomar banho e lavar a louça, tem uma cacimba onde os porcos se escarafuncham na lama para refrescar o toucinho. Deusina sempre reclama por ser forçada a morar na imundicie e de tanto futucar as pustemas, por viver comida pelos bichos de pé, pegou erisipela e frieira de égua. Godô, cheio de cachaça, odeia tomar banho, tem catinga de ranço encruada e sete camadas de cascão nas virilhas. As crianças, todas tangadas, vivem cheias de melecas e catarro escorrendo nariz abaixo. Em cima do fogão de lenha tem um amontoado de panelas pretas, caldeirão emendado, frigideira sem cabo e caneca de lata de conserva. Como tem boa renda, comida farta não falta, mas roupa e outras necessidades da casa e da família, por mais simples que sejam, o marido se nega a comprar.
Às escondidas, Deusina vendeu uma dúzia de ovos e comprou um tablete de sabão de coco. Descoberta, o cacete comeu no Catingueira e a mulher foi levada para o hospital, toda roxa, com a boca cheia de espuma, sufocada com o pedaço de sabão enterrado goela abaixo. Na delegacia Godofredo disse que a próxima vez que ela mexer no galinheiro vai enfiar doze ovos pelo rabo de Deusina adentro. Tomou voz de xadrez e foi enquadrado por tentativa de homicídio.
Beiçudinha à pururuca
O barraco de Cila tem três andares. No de baixo é um galinheiro. Ela mora no do meio, e no último tem uma laje onde ela se espicha, toda nua, para tomar sol, lambuzada de água oxigenada misturada com sobra de óleo de fritura. Fica meio fedida, mas em compensação fica loira e brilhosa. A vizinha, cujo barraco não tem tampa, se arregaça de inveja por não ter onde descolorar a xuxuquinha e, para se vingar, misturou água de bateria com óleo queimado de automóvel e sumo de folha de figo e deu à Cila, afirmando ser um produto milagroso, “pois nem precisava de sol para ficar com a pele e os pelos sedosos e dourados”. A usuária da poção deu entrada no hospital com queimaduras de primeiro, segundo e terceiro graus em oitenta por cento do corpo. Só das maminhas e da bunda caíram mais de sete camadas de pele esturricada. Nas áreas mais pentelhudas a pelancaria virou torresmo. A coisa da vítima ficou parecida com um focinho de leitão à pururuca. O marido da despelancada jurou que só está esperando a bruxa sair do xadrez para esgulepar a vizinha na porrada. O advogado da vítima pediu que o crime seja julgado como tentativa de homicídio. O filho da vítima, macumbeiro de mão cheia, disse que vai esvair a agressora com um despacho de diarreia rala, para toda vez que ela botar o pé na rua, já sair se borrando toda com cocô aguado.
A vingança do cangaceiro
Apaixonada pelo ator que interpretou o capitão na novela Cordel Encantado, Alda foi à feira dos paraíbas, comprou o traje e pediu ao marido para vestir a roupa de cabra de Lampião, a fim de satisfazer a sua fantasia de ter uma relação com um macho viril, sertanejo, cangaceiro arretado, filho da peste e dançador de xaxado. De saco cheio de ouvir os tesudos suspiros e langanhos da esposa, visivelmente arrebatada pela peluda figura do sedutor personagem das caatingas do sertão nordestino, vestiu a roupa de couro de bode, calçou as alparcatas de sola dura, botou chapéu de aba achatada, armou o cinto com uma peixeira afiada e gritou: “Se arreganha Maria Bonita, porque hoje eu vou invadir a sua caçarola de buchada com o meu saco de mandioca”. Por estar no período do absorvente, negou-se as carícias do clone de cangaceiro, enquanto ele, por ter tido muito trabalho para se vestir e interpretar o momento, afirmou: “Ou dá assim mesmo, sua galinha de terreiro, ou então tu viras paçoca de carne-de-sol na ponta da peixeira”.
Alda deu entrada no hospital com o corpo todo lanhado por golpes de faca produzidos pelo herói dos sertões. A polícia encontrou sobre a cama a fantasia ensanguentada e a arma utilizada na tentativa de homicídio. Juca, antes de fugir, destruiu a TV, quebrou os móveis da sala, sapecou fogo na cozinha e, com um pontapé, deixou o cachorro com a bunda destroncada.
Chegadinho num redondo
No Boteco da Manguaça alguém disse que o filho de Jujuta andava queimando a ruela num local conhecido como Macegueira. O assunto correu boca na cidade e quando a mãe ficou sabendo do fuxico, o rapaz já tinha até sido batizado pela galera com o nome pomposo de Lucrécia de Windsor, com os títulos de Duquesa do Moirão Atochado e Marquesa do Morro do Pau de Sebo.
Deflorada pela notícia, Dona Jujuta esperou escurecer, botou os seus três pit-bulls dentro do carro e partiu pra Macegueira da putaria. Era um tal de entra e sai de moitas, nheco-nheco com gemidos na macega, gente com farpa de bambu espetada no rabo, outros lavando o birro na água que escorre pelo rego da grota funda, tinha até vendedor de spray específico contra picadura de mosquito na bunda. De repente, pronta pra cair na macega, lá vem Lucrécia de Windsor, toda espetaculosa, com o namorado parrudão, conhecido como Galego da Academia. Instigados por Jujuta, as primeiras dentadas foram nas rodelas das maminhas do peitão bombado. As da cara arrancaram pedaços do beiço e da orelha esquerda, as das costas deixaram a bunda em frangalhos, uma bocanhada passou raspando na pelanca dos ovos, babou o cabeção do churulitão e cravou na curva da virilha. Foram vinte e uma dentadas por todo o corpo. Galego deu entrada no hospital onde continua internado em estado de molambo esfarrapado.
Casamento no barranco
Para melhorar o plantel, o dono da fazenda comprou uma égua do mais puro e nobre sangue inglês e deixou o animal aos cuidados de um peão conhecido como Badalo. Como sua alteza não dava a menor chance para os cavalos do haras foi batizada com nome de Lady Sapatão.
Aproveitando uma tarde de sábado, quando poucos peões ficam na fazenda, Badalo arrastou a Lady até um local conhecido como Gargalo do Rego, enfiou nas orelhas e amarrou na cabeça do animal uma grinalda de brancas flores de laranjeiras, pintou a boca da égua com um batom vermelho terremoto e perguntou se ela o aceitava, para todo o sempre, como o seu legítimo, fiel e adorado esposo. Preparando-se para a lua de mel, ficou peladão, encostou Sapatona no barranco e quando apontou o mandiocão para o alvo, tomou um coice nas virilhas que, além de causar fratura de bacia, fez voar tanto pentelho que quase entupiu o gargalo do rego. A segunda patada pegou no centro da cara deixando como resultado um olho vazado e uma extensa fratura de crânio. Badalo foi removido para o hospital de politraumatismo onde continua internado. Com o batom agarrado nos beiços, Lady continua dando sorrisos relinchados com a boca colorida de vermelho.
Perereca de difícil acesso
Sessenta dias depois de ter saído do hospital, onde ficou por mais de três meses devido a um grave acidente de carro, Delma contratou um advogado para dar entrada numa queixa por desprezo, com pedido de separação litigiosa e pensão alimentícia. Os motivos apresentados foram o repúdio e total ausência do seu amante no cumprimento dos seus deveres íntimos conjugais, o desânimo e a tristeza do bilau ao aproximar-se da porta de entrada e o olhar de desprezo com o qual fita o seu antigo e por ele desvirginado objeto de desejo.
Em sua defesa Elizeu alegou, por escrito, que a mulher é uma pinguça genética e incorrigível, que nunca deu bola aos seus pedidos para não dirigir bêbeda, porque além de meio cega, é péssima motorista. Que foram vários e graves os acidentes por ela causados e, em consequência, já amputou uma das maminhas e arrancou o bico e a rodela da outra, a barriga tem tantas cicatrizes que parece foto aérea das favelas do Rio de Janeiro. No lugar do umbigo tem um bueiro e um enorme calombo duro e cabeludo no sovaco que não aceita desodorante. Dorme e ronca durante o ato sexual e peida na mesa durante as refeições. No último acidente, esmigalhou a perereca que, além de ter ficado totalmente desfigurada e com inchaço crônico, ficou tão torta que se encontra em lugar ignorado, portanto, não sabido e possivelmente de difícil acesso.
O advogado da queixosa disse que diante de tais argumentos, dificilmente a ação será favorável a impetrante da causa.