Não resta outra alternativa que não seja a de aprofundar as reflexões sobre os motivos que acabaram transformando Brasília neste palco de escândalos sucessivos, atingindo os mais altos níveis de poder da República, envolvendo ministros acusados de corrupção, por último, agora, o das Cidades, Mário Negromonte, que até admitiu para aliados de seu próprio partido, o PP, que não tinha mais condições “políticas e pessoais” de permanecer em cargo do primeiro escalão do governo. De cara, entre as causas apontadas como responsáveis por esta situação existe uma que aflora predominante: o loteamento de cargos com a farta distribuição de gabinetes a políticos aliados para garantir a lealdade de seus partidos ao governo no Congresso Nacional, constituindo a maior e mais heterogênea base partidária já montada na História recente do país. Quem nesse loteamento é levado a um alto cargo, como é o de ministro, fruto da negociação entre o seu partido e o governo, sente-se liberado para tratar a coisa pública como patrimônio partidário e pessoal, alimentando o caixa partidário, o seu próprio e o de parentes e amigos.
Vivemos numa República que sustenta 24 ministérios, mais nove secretarias ligadas à Presidência e seis órgãos com status de ministério. Daí o fato de considerar-se um total de 39 ministérios, o que é um recorde na História do país. Como disse o empresário Jorge Gerdau, coordenador da Câmara de Gestão, órgão consultivo criado por Dilma para a melhora da eficiência no governo, “é impossível administrar bem com 39 ministérios”. Um levantamento feito pelo deputado federal José Antônio Reguffe, cujo resultado foi mantido em sigilo até novembro último, mostra que, apenas no âmbito federal, existem 23.597 cargos que podem ser preenchidos livremente pelo Executivo sem ser exigida qualquer formação técnica dos nomeados. Desse total, 21.422 cargos são ocupados majoritariamente por indicados do PT e do PMDB. Em países com um PIB bem superior ao do Brasil, o total desses cargos não ultrapassa 8.000. Só em salário esta farsa associativa do “aparelhamento” com a “governablidade”, custa aos nossos bolsos, já corroídos pela escorchante carga de impostos, a bagatela de 56,5 milhões de reais por mês.
No Brasil de hoje, um aspecto fundamental é que a questão política não se resume apenas em como chegar ao poder e mantê-lo, mas, principalmente, em que dimensões se exercerá tal poder. O esquema fisiológico do lulopetismo só serviu para cristalizar o pernicioso vício desta república tupiniquim, que consiste em ganhar eleição para manter o poder através do controle do Congresso, das Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chama atenção para o fato de que, “com a degradação da política brasileira, através do fisiologismo, do apadrinhamento e do clientelismo, só existem dois lados: o dos partidos da base governista, que são os condomínios do Estado, e o dos que estão fora da partilha do saque”. Agora mesmo, no finalzinho de janeiro, a mídia divulgou um bom exemplo desse contexto com a criação de mais uma Diretoria na Petrobras, a Corporativa, apenas para empregar o “companheiro” José Eduardo Dutra, ex-presidente da estatal e do PT.