No início deste 2012, ganhei um presente que tem alegrado e embelezado os meus dias: o livro Passaporte para a China, com crônicas de viagem de Lygia Fagundes Telles. Delícia das delícias pegar carona na viagem de Lygia e acompanhá-la naquela delegação de escritores e artistas brasileiros convidados para a festa de comemoração do 11° aniversário do regime socialista de Mao-Tsé-Tung, naquele 1960, quando Brasília nascia e vivíamos um outro tempo.
A viagem foi longa e Pequim custou a chegar. E Lygia flanou pelas ruas de Paris, Praga e Moscou. Através dela ficamos sabendo que Érico Veríssimo achava Paris “uma cidade hermafrodita por reunir os caracteres dos dois sexos”, do qual discorda Lygia. Para ela, Paris “é do sexo feminino” e “não existe cidade mais feminina (…), mulher vaidosa e assim felina feito uma gata sensual que se oferece ao turista deslumbrado mas esconde a face verdadeira, a face profunda que fica oculta e que só obedece à voz do dono e esse dono é francês.”
Já Praga, a capital da Boemia e cidade natal de Franz Kafka, para Lygia é também do “sexo feminino mas sem o decote e os olhos pintados. Tem a fisionomia de uma balzaquiana de cara lavada, mãos limpas e afeitas às tarefas de lidar com a casa e com as flores (…)”.
Da conferência de Mao-Tsé-Tung uma ideia foi guardada pela escritora: “A China deve caminhar sobre duas pernas, uma (…), a agricultura e a outra (…), a indústria (…). Lembra Lygia que Napoleão, um dia, diante do mapa daquele país, disse: “Eis um gigante que dorme. Quando ele acordar, fará tremer o mundo.” E “a China acordou, está acordadíssima”, escreveu a autora, em 1960.
Daqui da rede da varanda, acompanhada do mar de Saquarema, termino de ler, emocionada, este belo livro de Lygia. E lembro de correspondência que ela me enviou, faz tempo: “Que belo esse seu mar de Saquarema! Fiquei emocionada diante de tanta beleza. Uma praia assim até o nosso corrosivo Machado de Assis poderia dizer, A VIDA É BOA.”