Quando eclodiram os primeiros zunidos dos escândalos envolvendo o bicheiro Carlinhos Cachoeira, políticos e empreiteiras, sobretudo a Delta, a convocação de uma CPI abrangendo Câmara e Senado começou a ser, imediatamente, incentivada pelo PT, visando abafar o mensalão em vias de julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF): “A bancada do PT na Câmara e no Senado defende uma CPI para esse escândalo dos autores da farsa do mensalão” – disparou Rui Falcão, presidente do PT. Uma CPI funciona como instrumento das minorias e, por isso, todo governo sempre tenta barrá-la através das maiorias fisiológicas construídas para evitar um farto respingar de lama. Desta vez, ao contrário, foi a maioria petista que insuflou a convocação da CPI do Cachoeira, alimentada por Lula com sua sede de vingança contra o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, e a desesperada busca de um fato político capaz de influenciar a decisão do STF sobre o mensalão. Um desespero que dimensiona a grande extensão do temor de que este julgamento do STF acabe por confirmar o que os petistas querem apagar da História, como a mais audaciosa tentativa de comprar um Parlamento de que se tem notícia até hoje.
Mas, agora, essa intenção de Lula passou a ser considerada muito arriscada. Com as denúncias que se sucedem, o escândalo Cachoeira assumiu proporções para uma CPI onde todos correrão risco, inclusive o PT com Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal. Petistas ligados a Dilma criticaram severamente o partido, por ter encampado a orientação de Lula pela criação da CPI visando abafar o mensalão e a desforra sobre o governador de Goiás. Lula é o pai da CPI do Cachoeira e, por enquanto, Dilma recusa-se a ser mãe. A presidente não vê a CPI com bons olhos, por temer “tiro no pé”, principalmente depois que cresceram as denúncias envolvendo a construtora Delta, responsável por grande parte das obras do PAC e com muitos tentáculos na maioria dos governos estaduais. Ainda sem orientação clara do Planalto sobre como agir na CPI, líderes aliados temem que Dilma acabe nas mãos do PMDB mais uma vez. A propósito, mesmo hospitalizado, Sarney conseguiu convencer Lula de que o mais importante é unir os dois maiores partidos da base aliada (PMDB e PT) para fazer prevalecer a maioria parlamentar na blindagem do governo Dilma, impedindo que a CPI respingue no Planalto. Numa CPI nem o presidente da República, por mais forte que seja, pode dormir em paz enquanto ela durar. Além de Dilma, agora, todo mundo está com medo, inclusive o PT, que cogitou e conseguiu montar a Operação CPI.
Em meio a tantas incertezas, parlamentares experientes advertem que qualquer CPI criada funcionará somente um mês. No decorrer de junho, o mundo político entrará em ritmo de eleições. O colunista Ricardo Noblat relata que um veterano senador peemedebista perguntou ao colega Sarney: “Aqui no Senado somos os mais experientes em matéria de CPIs. Essa vai dar em quê?” E ouviu de Sarney: “Em merda. E caberá a nós limpá-la.” Para o cronista Arnaldo Jabour, “Sarney admite que pode espirrar neles, pois sabe que merda não tem bússola.” O clima de apreensão aumentou muito e já une base governista à oposição Tanto que a CPI foi apelidada de “Jim Jones” porque “todos morrerão abraçados”.