Consideradas apenas um instrumento da minoria, as Comissões Parlamentares de Inquérito (CPI) costumam ser instaladas sob o controle ferrenho da maioria, onde prevalece a postura de tratar a corrupção dos aliados do governo como uma questão estritamente política, ao passo que a corrupção dos adversários é demonizada sumariamente. Enquanto for assim não conseguiremos dominar essa praga que sobrevive no país, diante de um acolhimento afável devido à uma legislação frouxa e à cultura da impunidade que aqui impera desde Cabral, o do Descobrimento, e é revivida por Vaccarezza: “Não se preocupe porque você é nosso e nós somos teu”.
O fato de relatórios de órgãos internacionais terem classificado de endêmica a corrupção brasileira não quer dizer que se trata de uma doença típica dos trópicos, mas é que ela se espalhou pelo país, o que, convenhamos, parece uma verdade incontestável. De acordo com o Índice da Transparência Internacional, o Brasil caiu da 45ª para a 73ª posição em matéria de corrupção entre 2002 e 2011, numa piora significativa durante os governos do PT, partido que sempre usou o combate à corrupção como sua marca antes de chegar à Presidência e tentou salvar as aparências nos primeiros tempos. Em vão: o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, cunhou o slogan que repetia seguidamente, “este é um governo que não rouba nem deixa roubar”, até que seu assessor político, Waldomiro Diniz, foi denunciado por um vídeo que o mostrava recebendo propina do bicheiro Carlinhos Cachoeira, que trabalhava na Loterj (Loteria do Estado do Rio de Janeiro).
Quando a existência do mensalão veio a público, ficou bem claro que a propalada diferença do PT em relação aos outros partidos não existia , era apenas um artifício de maquiagem do marketing político. Confirmando isso, muitos ainda devem lembrar que, em entrevista à televisão francesa, indagado sobre o mensalão, o então presidente Lula justificou: “No Brasil, todos os outros partidos também fazem isso”…
No primeiro grande escândalo depois do mensalão, o da tentativa de compra de um dossiê fajuto contra José Serra, em 2006, surgiram então os “aloprados”, termo da lavra presidencial de Lula. Agora, fala-se muito das evidências de que “aloprados” reapareceram na barafunda em que se transformou a investida supostamente planejada para usar a CPI do Cachoeira visando atemorizar o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, e através de pressões sobre o ministro do Supremo Gilmar Mendes, emparedar o STF e empurrar com a barriga o início do julgamento do mensalão, assunto que atormenta Lula e a ala radical do PT. O STF respondeu marcando o julgamento para agosto. A conferir…
Com o voluntarismo de Lula, que não sabe fazer outra coisa a não ser politizar tudo, o estrago está feito. Independentemente das versões sobre o encontro do ex-presidente com o ministro Gilmar Mendes, este encontro não poderia ter acontecido se vivêssemos num país sério. Realmente. Mas se não é sério – como tanta gente acha – “que país é esse?” como indagava o ex-governador mineiro, Francelino Pereira, já na década de 70. Pelo jeito é o país do deboche, onde cabe ao povo o dever de pagar impostos para garantir ao Cachoeira o direito de ficar calado.