Para os padrões de hoje importam, sobretudo, os “records”: o mais “fashion”, o mais charmoso, o mais rico, o mais veloz, o mais isso ou aquilo. Ser um contra-universo, ter uma voz diferenciada tem seu alto preço. Mas são em geral essas, as vozes que nos tocam mais diretamente o coração.
Nosso corpo tem andamento próprio e submetê-lo a velocidades exacerbadas, exigindo dele presteza a todo instante, certamente traz consequências nocivas à saúde. Mas isso parece não importar muito: “quanto mais adrenalina, melhor”, dizem muitos. E haja energéticos e urgência em viver.
“O velho ditado – a pressa é inimiga da perfeição – foi virada pelo avesso. Agora nada é perfeito se não for instantâneo”, escreveu Rosiska Darcy de Oliveira, em primorosa análise da vida contemporânea, “Paradoxo tragicômico”, publicada em “O GLOBO”, de 12 de maio passado.
“A aceleração, o fenômeno contemporâneo mais vivenciado e menos compreendido, permeia o cotidiano (…) Viciado na aceleração, o psiquismo, por adaptação, se transforma e, na urgência do instantâneo, vai perdendo a capacidade de reflexão (…)”, continua ela.
Reflexão indispensável para termos as soluções para os grandes problemas que nos afligem neste Planeta Azul e que exigem muito mais do que o estoque de informações que a parafernália eletrônica é capaz de nos fornecer. Exigem, sobretudo, conhecimento, sensibilidade, sabedoria.
Rosiska Darcy cita o grande T.S. Elliot que já se perguntava: “Onde está a sabedoria que se perdeu no saber? Onde está o saber que se perdeu na informação?”
E a crise ecológica, que ameaça a nossa própria vida no Planeta, a exigir urgência, competência e sabedoria nas soluções, paradoxalmente esbarra em lentas e complexas negociações entre as Nações…
E adverte, finalizando, Rosiska Darcy: “Quando a urgência é vital somos incapazes de rapidez.”