“A função do escritor? Ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade. Escrever por aqueles que não podem escrever. Falar por aqueles que muitas vezes esperam ouvir da nossa boca a palavra que gostariam de dizer” (…). Palavras de Lygia Fagundes Telles.
E João Ubaldo Ribeiro, no exercício da função de escritor, deu testemunho do seu tempo e da sua sociedade, em veemente crônica publicada em “O Globo”, de 09.09.2012. Ele escreveu por aqueles que não podem escrever e foi a voz desta nação calada mas indignada, diante dos inescrupulosos fatos ocorridos e agora comprovados e julgados pelo STF, na popularmente chamada “Ação do Mensalão”.
Escreveu João Ubaldo: “a sociedade tem de encarar o desvio de dinheiro público, em qualquer forma, com tolerância zero (…) Acho que ninguém, a não ser os beneficiários dos desmandos, discorda de tolerância zero para quem nos rouba, nos condena ao atraso e causa tanta miséria e infelicidade. Ou seja, devemos ter esses inimigos públicos em conta inferior à de qualquer vagabundo ou ladrão de quintal. Este, além de roubar pouco e talvez nunca ter conhecido outro horizonte na vida, não achincalha as instituições, não debocha da lei e da justiça e não exibe cinicamente uma fortuna que todos sabem que não ganhou honestamente. Chega de eufemismos e de reverência indevida, o nome certo é ladrão e o nome do ato é furto, mesmo que venha sob a alcunha artística de peculato ou qualquer outra.
O quadro mudará com as condenações? Depende. Se não houver cadeia, não muda e talvez piore. E não cadeia com açúcar, como já se prevê, serviços comunitários, essas coisas também eufemísticas. Cadeia mesmo, com grades (…). Não se trata de ódio, nem da vontade de vingança, nem de nada passional. É que, se não houver cadeia, ninguém vai notar punição nenhuma, até porque, em última análise, não terá havido punição.”