Conheci Oscar Niemeyer, quando era repórter da revista Visão; fui a primeira jornalista brasileira a entrevistá-lo, quando retornou do exílio. Pouco tempo depois, tornei-me colaboradora da revista Módulo, que ele editava desde 1955. Nos contatos que tive com Niemeyer, sempre me impressionou a serenidade, a sabedoria, o raciocínio e a sensibilidade demonstrada nos mínimos detalhes. Ao longo da vida, Niemeyer associou trabalho à ideologia comunista, que abraçou desde jovem, quando adotou os princípios marxistas em oposição à chamada arquitetura comercial. Formado na Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, em 1945, já era um arquiteto conhecido; tornou-se amigo de Luiz Carlos Prestes e filiou-se ao Partido Comunista Brasileiro (PCB).
Em 1965, 223 professores da Universidade de Brasília, projetada por Niemeyer no contexto dos demais prédios da nova capital do país, Brasília, pediram demissão, inclusive ele, em protesto contra a ditadura no Brasil. Exilado na França, com passagens pela Argélia, União Soviética e Cuba, retornou ao Brasil no começo dos anos 80, início da abertura política. Na ocasião, junto com o governador Leonel Brizola, consolidou os projetos educacionais e culturais do antropólogo Darcy Ribeiro, projetando os CIEPs e a Passarela do Samba do Rio de Janeiro, com salas de aula sob as arquibancadas do Sambódromo.
Criador de verdadeiras obras primas da arquitetura moderna, entre elas a Pampulha, em Belo Horizonte (MG), Memorial da América Latina, em São Paulo (SP), Museu de Arte Contemporânea (MAC), em Niterói (RJ), a sede do Partido Comunista, na França, sede da Editora Mandatori, na Itália e da sede das Nações Unidas, nos Estados Unidos, Niemeyer é considerado um gênio humanista e um revolucionário na arquitetura, onde introduziu as curvas no concreto armado, técnica hoje difundida mundialmente. Segundo Niemeyer, sua arquitetura foi inspirada nas curvas das mulheres. Assim, se consagrou como mestre.
Quando estive em Angola, na África, junto com uma comitiva de artistas brasileiros liderados por Chico Buarque, mas que incluía nomes como Dorival Caymmi, Clara Nunes, Dona Yvone Lara, Martinho da Vila, Quinteto Violado, Elba Ramalho, Geraldinho Azevedo, João do Vale, Djavan, Francis e Olivia Hime, entre outros, o país ainda sofria ataques violentos do regime racista da África do Sul, quando Mandela ainda era um preso político. Nós, brasileiros, levamos música para os angolanos e, quando estávamos retornando, correu um boato que seríamos presos no aeroporto, no Rio. Oscar Niemeyer então foi nos recepcionar e atraiu toda a imprensa, para nos proteger e impedir que fossemos impedidos de ir e vir pelos estertores da ditadura que teimava em permanecer no Brasil… Saímos ilesos, graça a ele e em seguida publiquei uma reportagem, espécie de diário de bordo desta caravana artística em Angola, na sua revista Módulo, onde eu já atuava como colaboradora.
Pouca gente sabe o papel de Niemeyer em vários eventos artísticos culturais, como a realização do primeiro show de 1º de Maio, no Riocentro, um ano antes da bomba! Mais uma vez nos encontramos, ele no apoio logístico e eu fazendo o texto da contracapa do disco gravado ao vivo e lançado pela gravadora Ariola, com capa do Ziraldo! Oscar Niemeyer foi, é e será sempre uma referência nacional e interncional. Por seu talento e generosidade.