Cidade Dulce Tupy

Carnaval é um momento mágico em várias culturas

Editorial - Dulce Tupy

Carnaval é o tema da minha vida. Criada na Tijuca, bairro de classe média entre morros no Rio de Janeiro, passei a infância e adolescência ouvindo as baterias das escolas de samba Salgueiro, Império da Tijuca e Unidos da Tijuca, além de dezenas de blocos, mascarados e bailes carnavalescos. Sou uma foliã de carteirinha. Minha avó saía fantasiada e saía nas ruas, fazendo troça nas casas das amigas. Eu, minha irmã e primas íamos atrás… Na Praça Saens Peña, com meu pai e minha mãe, vi Chica da Silva ao vivo, no desfile para a comunidade que o Salgueiro fazia depois de participar do desfile oficial na avenida. Carnaval para mim sempre foi magia. Mas somente me dei conta de quanto o carnaval fazia parte de mim, quando fui morar em São Paulo e senti falta da batucada da minha vida.

No pré-carnaval, o Bloco do Truco fez um animado arrastão na beira da praia da Vila
No pré-carnaval, o Bloco do Truco fez um animado arrastão na beira da praia da Vila

Anos depois, ganhei uma bolsa de estudo da Fundação Nacional de Arte (Funarte) para uma pesquisa sobre o samba nos anos 1930 e 40, o que me levou a escrever um livro: Carnavais de Guerra, o nacionalismo no samba. Em seguida, fui convidada para fazer parte do grupo de julgadores do Desfile das Escolas de Samba, na Sapucaí. Participei da fundação do Museu do Carnaval, na Praça da Apoteose, onde atuei como pesquisadora da exposição inaugural e tornei-me conselheira, na cadeira que tem o nome da jornalista Eneida, uma das pioneiras cronistas no mundo do samba. Como crítica musical da Revista Visão, conheci a nata do samba e compartilhei momentos inesquecíveis…

Hoje, morando em Saquarema há 20 anos, descobri os blocos carnavalescos locais e brinquei junto com eles, nos três distritos. Com minhas reportagens sobre samba, revelei Jaconé como a capital da folia em Saquarema. Recentemente, fui visitada por uma aluna do mestrado da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), a jovem Sula Freire, que me entrevistou sobre o carnaval na Segunda Guerra Mundial, foco do meu livro e da tese dela. Foi com emoção que conversamos sobre as escolas de samba neste período, especialmente a Portela, que consolidou a tendência dos enredos nacionalistas.

Carnaval é assim: imagens, ritmos, cores e sons. Mas é também irreverência! Carnaval é farra, alegria. Aqui no Brasil, nos Estados Unidos em Nova Orleans, na Bolívia, em Cuba, em Nice e em Toulouse na França, em Veneza na Itália, em Montevideo no Uruguai e em outras partes do mundo. Com origem nas festas pagãs, na Antigra Grécia, e em Roma, o carnaval atravessou séculos e permanece até hoje como um enigma. O carnaval se renova todo ano. E fica no inconsciente coletivo, como uma gargalhada cósmica, que paira sobre o planeta.

 

Similar Posts