O empresário do ramo de segurança contra incêndio, Ronaldo Lima, fala da tragédia de Santa Maria
“Não brinca com fogo, menina; cuidado com os fogos, menino”. Estes conselhos de minha avó permanecem nos meus ouvidos até hoje. Embora encantada pelo vigor das labaredas das fogueiras de São João, sempre vivi momentos traumáticos com o fogo. Quando me mudei de São Paulo para o Rio, vi o incêndio do edifício Andorinha, da janela da redação da revista Isto É, na Avenida Almirante Barroso. Pessoas se jogavam das janelas e eu, o fotógrafo e alguns funcionários, impotentes, sem poder fazer nada, torcíamos para que os bombeiros conseguissem acabar com as chamas o mais rápido possível.
Também nunca pude esquecer aquelas nuvens negras de fumaça e o cheiro de queimado que na minha juventude senti ao ver o incêndio da Favela do Pinto, onde hoje é o condomínio Selva de Pedra, no Leblon, uma das áreas mais valorizadas no Rio de Janeiro… Assisti ainda, pela TV, o Museu de Arte Moderna, no Aterro do Flamengo, pegando fogo, um lugar que frequentei intensamente como aluna da Escola Nacional de Belas Artes. Corri para lá e encontrei uma cena dramática, com grande parte do riquíssimo acervo nacional de artes plásticas praticamente destruído e a diretora com os braços queimados de tanto carregar os quadros que restaram…
Sufoco no Rio Grande do Sul
A tragédia que se abateu sobre os universitários, na boate Kiss, em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, deixou o país consternado. A dor do fogo que ceifou tantas vidas ainda paira sobre os que permanecem internados. E tudo poderia ter sido evitado, se fossem tomadas todas as providências necessárias para evitar acidentes devastadores como estes. Especialista em prevenção de incêndios, o empresário Ronaldo Sebastião de Lima, dono da empresa Fire Centro, com sede em Bonsucesso, no Rio, e casa de veraneio em Jaconé, explica o que deveria ter sido feito e não foi.
“O que faltou em Santa Maria? O teto teria que ter sido tratado previamente, com um banho ignifugante, que contém líquidos que retiram o oxigênio da matéria, impedindo o fogo de se propagar. É um processo muito caro, feito com matéria prima importada. Esse tipo de tratamento hoje é utilizado pela Rede Record e pela Globo, pelas escolas de samba e por alguns clientes especiais”, conta Ronaldo, responsável pelo sistema de segurança das novelas Rei Davi e José, da TV Record e que criou o sistema de segurança de incêndio de ignifugação, com tratamento retardante da ação do fogo, para a TV Globo, após incêndio ocorrido no Programa da Xuxa que destruiu todo o cenário e atingiu algumas pessoas.
Credenciado no Corpo de Bombeiro, com o número 020064, desde 1990, Ronaldo é um especialista neste mercado que só ganha visibilidade quando acontece um grande incêndio e depois fica esquecido. Às vésperas do carnaval de 2011, houve um incêndio na Cidade do Samba, no Rio, de grandes proporções que destruiu parte do barracão das escolas de samba União da Ilha, Portela e Grande Rio.
“E olha que lá tinha esprinkler, que é um chuveirinho que fica no teto e jorra água quando aumenta a temperatura”, lembra o empresário. “Mas na boate Kiss não tinha saída; apenas uma saída pequena. Numa boate, tem que ter várias saídas de emergência”, explica Ronaldo.