Delícia das delícias! Nada como ler um bom livro na rede da varanda, ouvindo o rumor cadenciado do mar e sentindo o carinho suave da brisa praiana de Saquarema… O livro? “A Poesia das Coisas Simples”, do notável Moacyr Scliar, com crônicas selecionadas e organizadas pela Profª Regina Zilberman, da UFRGS. O saudoso escritor gaúcho, falecido em janeiro de 2011, deixou 80 livros publicados e foi “um dos mais importantes cronistas da literatura brasileira das décadas finais do século XX e a primeira do século XXI”, na abalizada palavra da mencionada mestra. Das mais de 10.000 páginas publicadas foram selecionados 82 textos que integram o referido livro. Resultado: maravilha das maravilhas! Como, por exemplo, a crônica “O Brasil em sete personagens”, na qual Moacyr Scliar indica e justifica sete personagens literários representativos da brasilidade. São elas: 1ª) “Capitu, de “Dom Casmurro”. No extraordinário romance, Machado de Assis aborda “o sombrio tema do ciúme”. Capitu, com “olhos de ressaca” teria ou não traído o marido Bentinho? Ninguém tem ou terá certeza cabal na resposta. 2ª) A boneca Emília de Monteiro Lobato, que, “diferente de Pinóquio, não vira humano. Não precisa: Emilia é esperta, é ousada, é viradora traços, convenhamos, bem brasileiros”. 3ª) A cachorra Baleia, personagem de “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos. “É uma cachorra nordestina, enfrentando, com a família de retirante a que pertence, a terrível seca da região. E Baleia aprende a sobreviver caçando preás, ratos do campo.” Assim Graciliano descreve a cena da sua morte: “Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. Queria dormir. Acordaria num mundo feliz, num mundo cheio de preás (…) gordos, enormes”. 4ª) Ana Terra (de “O Tempo e o Vento”, de Erico Veríssimo) “personifica a mulher gaúcha, corajosa, lutadora”. 5ª) Gabriela, de Jorge Amado, “paixão de Nacib (..) um clássico baiano”. 6°) Macabéa (“A hora da estrela”), de Clarice Lispector. “Na figura dessa nordestina pobre, ingênua, sonhadora, Clarice simbolizou um grande número de mulheres brasileiras – e projetou a si própria”. 7ª) Dora Avante, de Luís Fernando Veríssimo, “a única socialite socialista do mundo. Precisa dizer mais?”
Não Scliar, não precisa. Nas sete personagens citadas, você sintetizou com apuro e sabedoria a nossa brasilidade. Não precisa dizer mais; tudo foi dito.