Continentino Porto*
Foi uma medida certa, legítima, moralizadora. É óbvio que o baixo clero ache que o deputado Paulo Melo (PMDB) ao pegar de surpresa os 12 membros da Mesa Diretora anunciando a extinção do 14º e 15º salários, teve como meta a disputa das próximas eleições. Mesmo que ele tenha agido com esperteza, o golpe foi um tiro no bolso dos parlamentares, que perderam cerca de R$ 5,6 milhões. Esperamos, no entanto, que não haja um jeitinho inventando uma outra medida que recompense a extinção desses benefícios.
Quando o deputado Paulo Melo reúne a Mesa Diretora para dizer que não quer de forma alguma que a Assembléia Legislativa se torne um Poder ultrapassado, mas que se adéqüe a novos tempos, é porque ele está certo que os deputados – que o elegeram- estão firmes e fortes ao lado de uma medida moralizadora, ao lado do presidente da Casa.
Finalmente, Paulo Melo tira da gaveta o projeto de Resolução que estava mofando e vinha sendo discutido há mais de um ano. Isso é uma demonstração que a oposição não consegue romper a aliança e que não tenha tempo para interpretações apressadas e críticas, aliás, um argumento que os oposicionistas não conseguem pautar, mas ao mesmo tempo, essa iniciativa acaba dando a impressão de que começou o jogo político das eleições e que não há nenhuma diferença dele dos métodos adotados por Sérgio Cabral, quando exerceu a presidência da Assembleia, tirando várias vantagens dos “marajás”, principalmente fixando o teto do salário do servidor legislativo ao do governador.
Paulo Melo procura tomar uma medida de trazer economia para a Casa, como também, uma forma de moralizar a Assembléia Legislativa, que aparece nas pesquisas como um poder desacreditado. Oficialmente, essa medida por ser uma decisão da Mesa Diretora, não cabe recurso.
A oposição se escuda numa versão de que a expectativa das eleições de 2014 cria um ambiente natural, porém precipitado, de disputa entre partidos tão diferentes de ideias, que num certo momento estão unidos apenas para dar apoio ao governo.
Segundo a lógica, já está em campo à batalha eleitoral. Há dias, assistimos o pronunciamento do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) rebatendo o discurso do senador Aécio Neves (PSDB-MG), mostrando-se indignado do senador mineiro não ter pronunciado em sua oração palavras- símbolos como “povo”, “gente” e “miséria”.
A própria presidente Dilma Rousseff (PT), em seu discurso nas homenagens aos 33 anos do PT fez críticas à oposição para agradar ao partido dos Trabalhadores. Essa crítica pode ser útil a oposição que, se quiser ter chance nas eleições, terá de mudar a sua linguagem, ser mais popular, ou melhor, ser povo.
Outro que entrou no campo da disputa eleitoral foi o governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB). Ele se reuniu com 184 prefeitos e anunciou um pacote de benefícios de R$612 milhões para as prefeituras, mas procurou em seu discurso não dar nenhuma conotação eleitoral, porém, não conseguiu evitar que a festa acabasse em ritmo de pré-candidatura, com os prefeitos aplaudindo e gritando “presidente”.
*Continentino Porto é presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Rio de Janeiro