Por Alessandra Calazans
Um dos grandes atrativos em Saquarema, o canal de ligação entre a lagoa e o mar, conhecido como Barra Franca, é um local singular, não só por sua beleza natural, mas também por sua função de equilíbrio do ecossistema, que promove a renovação das águas, proporcionando vitalidade às espécies do ambiente e consequente reestruturação da atividade pesqueira. Encantador ponto turístico, frequentado por banhistas, demanda um frequente desassoreamento da lagoa, um problema mais antigo do que se possa imaginar.
O local, também chamado de Barrinha, tem como característica o acúmulo de areia trazida pela maré, porém outros fatores, dentre eles a urbanização da região e o consequente processo de degradação das margens e poluição, contribuíram para o agravamento do problema. Antigamente, antes da Barra Franca, quando a barra fechava devido ao excesso de areia que as ondas jogavam no fundo da lagoa, os próprios pescadores se reuniam e, com enxadas, carrinhos de mão, panelas e outros utensílios, tiravam a areia que impedia a entrada da água do mar e dos peixes, abrindo um canal.
Esta atividade foi registrada no livro Viagem pelo Distrito dos Diamantes e Litoral do Brasil, de Auguste de Saint-Hilaire, cientista e expedicionário francês que percorreu e documentou a região, em 1822.
“Nesse lugar os habitantes de Saquarema rasgam de tempos em tempos um canal que estabelece comunicação entre o lago e o mar, trabalho que exige poucas forças, pois que o solo é constituído somente de areia. Os peixes entram no lago com as águas do mar, e estas, transportando mais areia, logo fecham o canal. Quando se tem pescado todo o peixe que havia entrado no lago, rasga-se novo canal e o lago de novo se enche. A parte da restinga onde se rasga o canal, ou melhor, se se quiser, a extremidade da restinga, tem o nome de Barra, porque é nesse lugar que se faz comunicação do lago com o mar. Dizem que outrora se podia entrar com embarcações do oceano no lago, mas que trabalhos mal orientados entupiram a entrada. Restabelecer essa comunicação, se não é impossível, seria dar vida a esta zona e enriquecê-la”.
Mais tarde, usavam-se máquinas para a retirada da areia. Tudo para abrir a barra, porque quando fechada, gerava graves consequências, como mortandade de peixes, agravamento da poluição e alagamento em época de chuvas.
Hoje, a vista aérea ou de cima do morro da igreja dá a real proporção da beleza e também do grau de assoreamento do local. Sucessivas obras para a construção da Barra Franca foram feitas, para garantir o fluxo das águas de forma permanente. Iniciado em 2001, o Projeto Barra Franca requereu muitos estudos e, finalmente, foi construído um molhe de pedras, uma nova passarela de pedestres ao lado da Ponte Darcy Bravo, foi feita também a contenção da margem da lagoa, reforma e ampliação da Ponte do Girau, no Jardim, e várias drenagens.
A Barra Franca deu vida nova à lagoa, mas não resolveu a demanda por novas dragagens, talvez pela dispersão das pedras do molhe, devido à força das ondas. Ninguém duvida que a Barra Franca é vital para a economia, turismo, pesca, meio ambiente e lazer da cidade, sem falar na energia telúrica que emana do encontro do mar com a lagoa.