Opinião

Costa do sol?

“Vejo sangue no ar… E há poetas míopes que pensam que é o arrebol”

Jorge de Lima

Por Ivan C. Proença*

Um fundamento básico da estrutura democrática de um país deveria abranger o indispensável respeito ao direito das minorias. No caso, refiro-me às populações indígenas e afrodescendentes. Exato respeito que nunca existiu do ponto de vista de quem exerceu Poder ao longo de nossa história. Inclusive na, hoje, decantada Costa do sol ou Região dos Lagos do nosso Estado, litoral do “sol e amor”.

O massacre (por emboscada) dos Tamoios, por exemplo, foi página constrangedora e a ser sempre repudiada por todos que pretendem uma sociedade justa e equilibrada. Ainda hoje, resquícios do autoritarismo quando nos anos 1970 se transferiu o Museu do Índio para a rua das Palmeiras para dissimular o banimento e as arbitrariedades cometidas pela Ditadura contra o ISEB que ali funcionava, em Botafogo. E agora, ao invés da devida restauração e retomada, a ameaça de demolição do histórico prédio ao lado do Maracanã.

Aqui em Saquarema, e municípios vizinhos, resta a memória do escravismo impiedoso praticado contra os escravos que trabalhavam nas plantações de café, cana de açúcar ou como serviçais nas grandes Fazendas. A propósito, registrem-se dois Quilombos como focos de resistência (Bacaxá, e, outro em Bonsucesso). Datas precisas e locais exatos, nossa escassa bibliografia a respeito não define.

Ao que tudo indica a Serra do Quilombo de Bacaxá (século XVIII) se situa nos arredores, e a oeste, da estrada Bacaxá-Latino Melo, alto e fundos de uma vertente da Serra conhecida como Castelhana, conquanto esta seja apenas um contraforte de região montanhosa, possível nascente do rio que nomeia o Distrito.  No ano de 1730, dois bacaxaenses, com suas espingardas, caçavam (o que era e é comum) na região, quando os negros-vigias do Quilombo os avistaram e, supondo um ataque, se anteciparam e mataram os caçadores. Foi o que bastou para as autoridades locais solicitarem ao governador tropas do Comando Militar do Rio de Janeiro que, comandados pelo capitão João de Abreu Pereira, ocuparam a região e promoveram mais um massacre exterminando os negros ali refugiados no Quilombo.  Por aí se começa a entender a reação de sinhazinhas e sinhozinhos de hoje em relação à Lei das domésticas. A História não acabou.

Por outro lado, Quilombo quer dizer em quimbundo “pouso no mato“. Bacaxá, no tupi é “terra de frutas (ácidas)“.  Cabe a perplexidade: o dito progresso no sistema em que vivemos, implica necessariamente em “extermínio“ do pouso-repouso-paz, e da natureza com suas árvores e frutos?

O mestre e doutor em literatura brasileira, Ivan acaba de relançar 3 livros de sua extensa obra (Edimilson Soares)
O mestre e doutor em literatura brasileira, Ivan acaba de relançar 3 livros de sua extensa obra (Edimilson Soares)

* Ivan Cavalcanti Proença é professor e escritor

 

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