De uma das leituras da minha juventude, nunca esqueci uma frase de Saint-Exupéry, em seu “O Pequeno Príncipe”, agora setentão: “o homem se mede diante do obstáculo.” Mas era isso mesmo? Queria dizer, então, que é diante do obstáculo que o homem verdadeiramente se conhece? Essa frase nunca se afastou de mim e se harmoniza perfeitamente com a determinação da professora de dança Adrianne Haslet-Davis, de 32 anos, que assistia a chegada da Maratona de Boston, em 15 de abril passado, quando, em consequência de duas bombas caseiras detonadas, foi atingida, arremessada longe, e seu pé esquerdo precisou ser amputado. Ela é uma dos 282 feridos no atentado, mas, detentora de uma grande força interior, revelou que não abandonará a dança. Em comovente matéria escrita por Fillipe Mauro e publicada na revista “Época”, de 28/04//13, ela afirmou: “não posso deixar um terrorista aparecer e roubar toda a minha vida. Voltarei a dançar. (…) Dançar é a única coisa realmente libertadora.” E mais: além da dança ela pretende readquirir condicionamento físico para começar a correr e se inscrever na próxima edição da Maratona de Boston…
Tem razão Saint-Exupèry: é diante do obstáculo que nos medimos e conhecemos a nossa capacidade para enfrentá-lo e vencê-lo, como certamente acontecerá com Adrianne Haslet-Davis, que, na adversidade, na fragilidade, se fortaleceu e alcançou a dimensão dos seus sonhos. E nós já aprendemos com Lygia Fagundes Telles: “O sonho é a salvação do homem.”