As manifestações de rua que sacudiram o país estão fundindo a cuca de analistas e cientistas políticos, bem como a de dirigentes partidários e lideranças políticas, que se perguntam perplexos: quem lidera isso, se não estamos lá? Quem lidera são os privilégios da classe política cada vez mais ofensiva ao restante da população. E as redes sociais tornam evidentes estes abusos. A percepção popular de que sobram privilégios e falta de responsabilidade à classe política ecoa na voz das ruas. No exato momento em que o povo reclamava do desconforto diário e do alto custo para chegar ao trabalho e voltar para casa, gastando muito tempo e dinheiro com transportes públicos, os presidentes do Senado e da Câmara e o ministro da Previdência Social usavam jatinhos da FAB para programações sociais com parentes e amigos pelo Brasil afora.
Mais do que reformas políticas, mais do que plebiscitos ou Constituintes, o que o clamor das ruas pede é uma nova postura de nossos homens públicos, uma nova maneira de se relacionar com a coisa pública. Em vez de uma reforma política proposta como solução mágica para os problemas, o que o povo quer é mais eficiência e transparência no gasto público de todos os que têm mandato. O que os políticos e o governo parecem não querer entender é que as prioridades para o povo brasileiro são a ética e o bom uso do dinheiro público, proveniente dos impostos que pagamos, fazendo-nos trabalhar de graça nos 5 primeiros meses de cada ano.
As pesquisas Datafolha registraram acentuadas quedas na popularidade da presidente, de governadores e prefeitos, confirmando as expectativas de políticos para os quais as manifestações “bagunçaram” as eleições de 2014. O governo lulopetista optou por uma governabilidade assegurada por um Congresso ainda contaminado pelos “300 picaretas” denunciados por Lula. A gigantesca coligação de partidos montada por Lula para eleger Dilma e ajudá-la a governar ameaça esfarelar-se. Persistindo a queda de Dilma nas pesquisas, ela será abandonada. A música mais tocada nas dependências petistas passou a ser a antiga marchinha “Bota o retrato do velho outra vez, bota no mesmo lugar…” que abalou a volta de Getúlio Vargas à Presidência. O velho da vez é Lula que substituiria Dilma na eleição do ano que vem.
Na ânsia de dar respostas à voz das ruas, a presidente Dilma envereda pelo arriscado caminho de tentar jogar sobre terceiras pessoas a responsabilidade pelas carências dos serviços públicos, um dos principais temas nos cartazes das manifestações que levaram tanta gente às ruas. A realização do plebiscito sobre a reforma política, que o bom senso e a legislação indicam ser impossível dentro dos prazos legais, voltou a ser questão de honra para o governo e uma das palavras de ordem da manifestação corporativa programada por centrais sindicais e movimentos sociais governistas para fazer o que o ex-presidente Lula chamou de “luta de massas” (aquelas que sempre terminam em pizzas) contra a “classe média conservadora” que reivindica questões da cidadania.