Nesta feira-livre da estapafúrdia democracia partidária brasileira, enquanto os “feirantes profissionais” da política “conseguiram” atender à necessidade formal de mais de 400 mil assinaturas válidas e fundar 2 partidos como legendas de aluguel, o Solidariedade, do deputado federal e sindicalista, Paulinho da Força (ex-PDT) e o PROS (Partido Republicano da Ordem social), do ex-vereador de Planaltina (GO), Eurípides Júnior, a Rede Sustentabilidade, com apoio claro da sociedade – haja vista Marina Silva, sem qualquer cargo eletivo, aparecer em segundo lugar nas pesquisas eleitorais para 2014 – fica de fora, sem registro no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Sintomático é que cartórios em áreas de domínio eleitoral do PT (ABC paulista), contrário à criação da legenda da ex-senadora Marina Silva, apresentaram índices de rejeição de assinaturas em apoio à Rede acima de 50%.
Apesar de chegar a ser dada como “abatida” ao decolar, a indignação foi tanta, por não ter conseguido o registro da Rede, que se transformou em forças para Marina buscar o inesperado com sua filiação ao PSB, do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, significando para a ex-senadora uma saída “pela esquerda”. Os petistas, até mesmo Lula, ficaram irritadíssimos porque foram apanhados no contrapé e uma campanha que já estava sendo esquematizada para, mais uma vez, conduzir o debate no sentido de uma comparação entre o governo de Fernando Henrique e o de Lula, terá agora que lidar com o fato novo de que estará sendo oferecida uma alternativa para o futuro do país, e não uma discussão em torno do “nhenhenhém” do passado. É inegável que, para o PT, Lula e Dilma, encarar pela primeira vez uma dissidência quer dizer uma batalha em terreno desconhecido. A luta, como nas eleições anteriores, não cairá naquela restrita área de enfrentamento da “direita dos privatistas neoliberais”.
A um ano das eleições, o jogo ficou embaralhado, obrigando os candidatos a se movimentarem de forma a melhor se adaptarem ao novo campo da disputa que foi redesenhado. O discurso que Campos e Marina já começaram a montar é o de que eles se uniram para “sepultar de vez a Velha República”, encerrando a eterna polarização entre PT e PSDB. Assim, o discurso tende a ficar mais rico e menos sectário. É só Marina não usar juntas e misturadas, como na festa de filiação ao PSB, as palavras “programática” e “pragmática” e nem se empolgar muito com as “ecometáforas” que mais confundem do que esclarecem. Ao afirmar que deseja acabar com a hegemonia e o “chavismo” do PT no governo, Marina se refere às mazelas decorrentes de um projeto de poder que tentará sobreviver a qualquer custo. O momento está exigindo, de fato, um discurso mais amplo e profundo, pois o modelo econômico em vigor, desde o final do primeiro governo Lula, e a forma estabelecida de fazer política se esgotaram completamente. Isto começou a ficar muito nítido a partir da eleição de 2010, quando Marina Silva obteve quase 20 milhões de votos.