Lá se foi Maurício Azêdo, presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), companheiro de trabalho e lutas. Admirado por quase todos que o conheceram (porque Maurício era do tipo “ame-o ou deixe-o”), foi um exemplo de coragem. Trabalhador incansável, foi também um exemplo de persistência. Amigo fiel, foi um sábio que sabia ouvir e dar conselhos, com seu faro jornalístico e instinto de sobrevivência aguçados. Foi assim que o conheci nos idos dos anos 70, quando trabalhamos juntos no jornal Movimento, eu em São Paulo e ele na sucursal, no Rio. Movimento era um tabloide típico representante da chamada imprensa alternativa nos anos de chumbo. Na verdade, era um jornal de resistência que reunia todos – ou quase todos – os jornalistas que sobraram na chamada esquerda brasileira, entre os que não morreram, os que não foram para o exílio e os que tinham sobrevivido ao “desbunde”, sucumbindo no ilusório mundo das drogas.
Eu acabava de ser mãe e por estas coincidências da vida morava bem perto da redação do jornal Movimento, no bairro de Pinheiros, o que facilitou a minha entrada no jornal como colaboradora (sempre empurrando um carrinho de bebê), como tradutora de francês. Mais tarde, fui transferida para a editoria de cultura, onde fiquei mesmo depois de ter me mudado para o Rio de Janeiro, em meados de 1977. Aqui minha convivência com Maurício Azêdo foi determinante. Ele, com a paciência de jornalista experiente, me orientava nas reportagens mais difíceis, como aquela em que fizemos sobre o réveillon dos ricos e dos pobres… Maurício era brilhante em suas observações. Impecável como colega e mestre nos momentos críticos.
Lembro da campanha política em que se elegeu vereador, pela primeira vez. E das outras campanhas… Foi um elemento fundamental dentro de um PDT fragmentado cheio de mazelas. Antigo militante do PCB, nunca negou suas raízes, recebendo antigos companheiros com uma atenção especial e um carinho surpreendente. Maurício foi alçado, mais tarde, ao Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro, merecidamente, e retomou sua militância numa ABI submersa em crises, após o falecimento do presidente Barbosa Lima Sobrinho. Aos poucos, foi tomando pé da situação, até ser eleito presidente, colocando a ABI nos trilhos outra vez.
Com sua atuação reconhecida por 3 eleições sucessivas na ABI, Maurício demonstrou a coerência de uma carreira com base em princípios. Defensor das liberdades democráticas e militante dos direitos humanos, foi um símbolo da resistência contra a ditadura. Se quando jovem, foi um grande defensor da campanha “O petróleo é nosso!”, na juventude foi preso e torturado e na maturidade de seus quase 80 anos manteve abertas as portas da ABI para debates necessários como os do grupo Tortura nunca mais e da Comissão da Verdade. Editor do Jornal da ABI, consagrou seu estilo de jornalismo engajado. Mesmo doente, participava das reuniões e ainda tinha forças para animar os companheiros com sua postura digna, desde os menores problemas que afligem o dia a dia, até as grandes questões nacionais. Filósofo do jornalismo brasileiro.