Opinião Silênio Vignoli

Ano de 2013 mostrou que o improvável acontece muito

Opinião - Silênio Vignoli

 

O ano de 2013, desde que começou, comprovou a tese de que o inesperado sempre pode ocorrer muito mais do que supomos. Logo no início, no mês de fevereiro, provou que numa segunda-feira de Carnaval não tem só Carnaval. Pode ter também a renúncia de um papa. E foi o que aconteceu com Bento XVI, provocando a indagação de muitos: e papa renuncia? Não parou por aí. Para sucedê-lo uma escolha inédita: foi eleito um papa Latino-americano, argentino. O Brasil adorou. O Brasil e o mundo, católicos ou não, foram gostando cada vez mais do Papa Francisco. Um papa pop, que surpreende, dá entrevista, admite fraquezas e virou a pessoa do ano da revista “Time” e personalidade de 2013 mundo afora.

Junho foi o mês mais expressivo de 2013. Bota expressão nisso. Uma delas aparecia na faixa: “PAÍS MUDO NÃO MUDA”. Num ano historicamente marcado pelos protestos, o Congresso ficou devendo à chamada “pauta das ruas em 2013”. Com a experiência de 2013, chegamos em 2014 prontos para adaptar e gritar a palavra-de-ordem de um conhecido jingle publicitário: “Vem pra rua você também.” Enquanto isso, a queda de Eike Batista não surpreendeu quem observava atentamente sua habilidade para inflar o valor dos ativos. O tamanho do rombo é que pegou muita gente de surpresa. O governo fingiu espanto mas, lamentavelmente, injetou muito dinheiro no grupo, mesmo quando plataformas e navios já afundavam. O destino do empresário em si não importa, até porque ele continua rico. O que preocupa são os empregos perdidos e empréstimos concedidos pelo governo que não serão pagos.

Em pleno feriado de 15 de novembro, outro fato inédito, já esperado, mas que muita gente duvidava: os poderosos indo para a cadeia. Choro, ranger de dentes e braços levantados com o punho fechado contra o Supremo Tribunal Federal não impediram que o Brasil passasse a mandar para a cadeia, por corrupção, figuras de proa de um grupo político que se instalou no Palácio do Planalto há dez anos. Pouco antes de 2013 acabar, no dia 18 de dezembro, foi apresentado um “vale a pena ver de novo”, quando o presidente do senado, Renan Calheiros, voou a Recife, como sempre “a serviço”, conforme consta dos registros da FAB, onde internou-se numa clínica particular para o implante de dez mil fios de cabelo na cabeça, em cirurgia que durou oito horas. Renan está careca de saber que não pode usar avião da FAB para viagem particular. Ignorou a lei em junho, voltou a ignorá-la seis meses depois e só nos reembolsou porque os dois episódios se tornaram públicos.

No antepenúltimo dia do ano, 29 de dezembro, um domingo, a presidente-candidata entrou na casa dos brasileiros para uma saudação de fim de ano, que consumiu 1.400 palavras em autoelogios e semeadura de muitas dúvidas sobre o futuro do país e das pessoas. Enfim, 2014 chegou! Prepare o bolso para o aumento das tarifas e as contas a pagar: pedágios, táxis, ônibus municipais, intermunicipais e interestaduais, IPVA, IPTU, mensalidade e material escolar. Só nos resta, então, desejar-lhe um Feliz “Cano” Novo.

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